Título: Indústria rejeita salvaguardas
Autor: Ricardo Rego Monteiro
Fonte: Jornal do Brasil, 27/01/2005, Economia, p. A18
Eletros avalia se participa de reunião com argentinos Insatisfeita com o resultado da reunião da última terça-feira com representantes da indústria argentina, no Rio, a direção da Associação Nacional dos Fabricantes de Produtos Eletroeletrônicos (Eletros) abriu a proposta dos produtores vizinhos à consulta dos associados. A entidade também submeteu aos fabricantes nacionais a decisão de participar da próxima reunião dos grupos mistos de trabalhos para avaliar a salvaguarda de 21% aplicada sobre as importações de televisores, no dia 2 em Buenos Aires. Segundo o presidente da Eletros, Paulo Saab, qualquer que seja a decisão sobre as cotas de importação, no entanto, os empresários só aceitarão sua aplicação sem as salvaguardas. Embora o governo brasileiro tenha sinalizado que cederá às exigências argentinas de criar um mecanismo bilateral de salvaguardas, nas negociações entre representantes oficiais dos dois países, os empresários nacionais ainda não engoliram as restrições do país vizinho aos produtos brasileiros. Segundo Saab, a ruptura do livre comércio no Mercosul deixará seqüelas no Brasil.
Os investidores estrangeiros, diz ele, ''certamente pensarão duas vezes em aplicar no país com vistas ao mercado do Cone Sul''.
- Vai sair muito caro para o Brasil manter essa relação fraternal com os argentinos - criticou o diretor da área de Comércio Exterior do Centro das Indústrias do Estado de São Paulo (Ciesp), Humberto Barbato, ao acrescentar que o esforço do governo brasileiro em manter o Mercosul deverá custar empregos na indústria brasileira. Tanto Barbato quanto Saab afirmaram, ainda, que, ao ceder às exigências argentinas, o Brasil estará abrindo um precedente perigoso em futuras negociações com outros países com os quais eventualmente tiver superávit comercial.
Presidente da Associação Brasileira para Integração de Mercado (Adebim), Michel Alaby adverte que os atuais desentendimentos com empresários e governo argentinos prejudicam não só o fluxo comercial bilateral, mas também afetam os outros países do bloco. Segundo ele, o Mercosul como um todo sai enfraquecido para as próximas etapas das negociações para formação da Alca e do acordo com a União Européia.
Como solução para evitar novos conflitos no âmbito do bloco, Alaby sugere que o governo brasileiro, em lugar de oferecer financiamentos do BNDES para infra-estrutura no país vizinho, disponibilize os recursos para os segmentos de televisores e eletrodomésticos de linha branca.