Título: Ninguém compra lotes do Taquari
Autor: Lorenna Rodrigues
Fonte: Jornal do Brasil, 27/01/2005, Brasília, p. D8

Dos 106 terrenos oferecidos em licitação, só nove são vendidos e não há quem se interessa por área que outro já ocupe Só foram comprados nove dos 106 lotes do Condomínio Taquari, antigo Hollywood, colocados à venda pela Terracap na 5ª licitação, ocorrida na terça-feira. Dentre os compradores, cinco já moram nos lotes. Os outros quatro compraram lotes não ocupados. Na prática, isso significa que nenhum comprador de fora se arriscou a ficar com um dos lotes já ocupados. Afinal, cabe ao comprador retirar os moradores-ocupantes. O Taquari fica perto da Asa Norte, no Colorado.

A briga entre os moradores e a Terracap começa com a discussão em torno dos preços dos lotes, que vão de R$ 80 mil a mais de R$ 300 mil. Os moradores têm prioridade de compra mas alegam que não podem pagar o preço cobrado pela Terracap. Segundo José Gadelho, prefeito comunitário do setor, os preços dos lotes aumentaram até 92,8% desde a primeira licitação.

-Foram três licitações em três meses e já tem outra marcada para o dia 22 de fevereiro. A Terracap deveria concentrar-se em cumprir o cronograma de obras e não em vender os lotes com os moradores dentro -reclama.

Gadelho acrescenta que os moradores que ainda não compraram seus lotes querem resolver a situação, mas não têm condições de pagar.

É o caso de Cristina de Almeida, moradora da Quadra 3. Há mais de dois anos no local, Cristina mudou-se com a promessa de pagar R$ 20 mil pelo lote. O valor cobrado na última licitação era de mais de R$ 100 mil.

-Eu quero comprar o lote, não quero ganhar do governo. Só que eu não posso pagar o que estão cobrando, eu quero pagar um preço justo - explica. Para Cristina, a Terracap deveria oferecer condições especiais para os moradores.

Segundo a Terracap, não adianta os moradores esperarem ''chover benefícios''. As condições de compra são as mesmas para qualquer comprador, ocupante ou não.

A Terracap acredita que a venda foi pequena no dia 25 por ocorrer no mês de janeiro, geralmente fraco para venda de imóveis, e não pela falta de dinheiro dos moradores. Dos 106 lotes à venda, 90% estão ocupados.

Embora os moradores reclamem, os preços dos lotes vendidos por particulares é ainda maior do que o cobrado pela Terracap. Enquanto um lote de 750 m² custa cerca de R$ 85 mil na licitação, um lote do mesmo tamanho é vendido por cerca de R$ 120 mil pelos moradores.

Mesmo sendo o primeiro condomínio a entrar em processo de regularização no DF, em 2002, o Taquari ainda não está totalmente regular. É proibido, por exemplo, construir no local, uma vez que o Ibama ainda não concedeu a chamada licença de operações, que autoriza construções. O Ibama explica que só dará a licença quando a Terracap concluir as obras de infra-estrutura, como esgoto e asfalto. Sem a licença, muitos moradores têm sido multados e suas obras, embargadas.

Apesar de a Terracap afirmar que apenas 5% do setor não tem asfalto, uma visita ao local prova o contrário. Só as ruas principais foram asfaltadas, enquanto nas outras há buracos e muito mato dificulta o acesso às casas. Água, só de poços artesianos, administrados pelos próprios moradores.