Correio Braziliense, n. 21073, 03/02/2021. Saúde, p. 11

 

Múltiplas linhagens na África do Sul

03/02/2021

 

 

Pesquisadores identificaram 16 novas linhagens do Sars-CoV-2, o agente da covid-19, em uma análise genética ampla realizada na África do Sul. Os especialistas avaliaram mais de 1.300 sequências quase completas do genoma do patógeno durante os primeiros seis meses da pandemia. As cepas foram apresentadas na última edição da revista Nature Medicine.

Os dados que os cientistas utilizaram no trabalho foram coletados no país africano entre 6 de março a 26 de agosto de 2020. Os pesquisadores usaram métodos de mapeamento genético apurados em busca de alterações na estrutura do vírus em milhares de amostras.

"A epidemiologia genômica tem sido bastante explorada para entender a evolução do Sars-CoV-2 e para rastrear a dinâmica da transmissão em todo o mundo, é um método essencial para auxiliar no combate a esse vírus", enfatizaram no artigo os autores do estudo, liderado por Túlio Oliveira, professor da Universidade de KwaZulu- Natal, na África do Sul.

Disseminação

Os especialistas identificaram as 16 novas cepas e descobriram que a maioria delas têm mutações únicas, que não foram observadas em outros lugares. Os autores da pesquisa explicaram que três dessas variantes — chamadas de B.1.1.54, B.1.1.56 e C.1 — se espalharam amplamente na África do Sul durante a primeira onda, respondendo por cerca de 42% de todas as infecções do país, na época.

"A linhagem C do Sars-CoV-2, nomeada de C.1, por exemplo, era a mais difundida geograficamente na África do Sul no fim de agosto de 2020", especificaram os cientistas no trabalho.

Os pesquisadores assinalaram que esse tipo de vigilância genômica precisa ser usado em larga escala e constantemente. A medida é considerada essencial para encontrar novas cepas do coronavírus e ajudar no controle de sua disseminação. "Foi esse tipo de trabalho que ajudou na identificação da variante 501Y.V2 da África do Sul em dezembro de 2020, e que fez com que até as autoridades de outros países ficassem alertas e tomassem medidas mais restritivas para conter o vírus", observaram os especialistas no artigo.