Título: Biólogo mobiliza vizinhos e acaba com focos
Autor: Waleska Borges
Fonte: Jornal do Brasil, 27/01/2005, Rio, p. A14
Enquanto as autoridades buscam alternativas para o combate ao Aedes aegypti, os voluntários vão à luta. O biólogo Emir Mercadante criou armadilhas contra o mosquito e conseguiu diminuir o índice de infestação no condomínio onde mora, em Vila Isabel. Em menos de um ano, a taxa do local passou de 5,5% para menos de 1%. Para implantar as armadilhas, na área de 30 mil metros quadrados e 450 moradores, o biólogo contou com a mobilização dos seus vizinhos. Lagos e reservatórios de água serviram de armadilha para os ovos do mosquito. Depois de mapear os focos dos mosquitos - identificados dentro e fora do condomínio -, o biólogo implantou as armadilhas, que vinham sendo desenvolvidas por ele desde 1998. Nos reservatórios, em média 30 metros de comprimento e 30 de altura, e lagos de 10 metros, foram colocados peixes conhecidos como barrigudinhos e tilápias.
- O Aedes aegypti tem como característica viver em locais sombreados. Uma vez eliminados os focos potenciais, eles vão para a armadilha e o peixe devora o ovo - explica Mercadante.
Segundo o biólogo além do mosquito da dengue, a armadilha também atrai o pernilongo. De acordo com Mercadante, desde a implantação do projeto, em 2001, o condomínio registra taxa de infestação do Aedes abaixo de zero.
- O projeto foi implantado quando o Rio passava por uma epidemia, em 2001. Naquele mesmo ano, entre os moradores do condomínio, apenas três pessoas contraíram a dengue. A contaminação, no entanto, foi fora do condomínio - comemora Mercadante.
De acordo com o biólogo, apesar da eficiência das armadilhas, o projeto deve estar aliado as ações do poder público.
Segundo pesquisadores da da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), novos surtos epidêmicos podem aumentar a freqüência da dengue hemorrágica, a forma mais grave da doença.
Uma pesquisa desenvolvida pelo Laboratório de Imunologia Molecular da UFRJ, do pesquisador Júlio Scharfstein, investiga os efeitos da infecção da dengue sobre a microcirculação. A intenção é saber porque, em alguns casos, a doença só registra sintomas passageiros e em outros leva ao óbito. O projeto recebeu R$ 200 mil da Fundação Carlos Chagas Filho de Amparo à Pesquisa, ligada à secretaria estadual de Ciência, Tecnologia e Inovação.
- Nossa intenção, principalmente, é investigar os mecanismos que precipitam quadros graves infecciosos que levam ao óbito. Esperamos chegar a uma resposta que resulte em um tratamento eficaz para esses casos graves de dengue - explica o pesquisador.