Título: Riscos de dengue aumentam
Autor: Waleska Borges
Fonte: Jornal do Brasil, 27/01/2005, Rio, p. A14

Tempo chuvoso favorece propagação de larva do mosquitos transmissor da doença A combinação de chuvas, calor e altos índices de infestação do mosquito Aedes Aegypti, transmissor da dengue, aumenta a preocupação com o surgimento de novos focos. Segundo especialistas, com os temporais dos últimos dias, o ambiente se torna propício ao crescimento da larva e à reprodução do mosquito. O médico Roberto Medronho, diretor do Núcleo de Estudos de Saúde Coletiva da UFRJ, alerta que o ovo do Aedes antes incubado deverá eclodir. Segundo ele, as chuvas que atingem o Rio chegaram sem que o poder público tivesse reforçado as equipes de combate à dengue. Sem o combate intensivo ao vetor - larva ou mosquito -, com as chuvas, segundo Medronho, o índice de infestação poderá dobrar. A fase do ovo ao mosquito adulto leva sete dias. Levantamento das autoridades municipal, estadual e federal constatou que a média de infestação na cidade é de 5,5%. No Méier, a taxa de infestação chega a 9,3%. Em Marechal Hermes, o índice aponta 7,3%.

- A chuva umedece o foco que estava seco, aumentando os locais para proliferação do mosquito - explica Medronho.

Um outro agravante, segundo Medronho, é a falta de agentes para orientar a população sobre os cuidados que se devem ter para evitar focos potenciais. Entre eles, vasos de plantas e caixa d'água.

- Muitas vezes o agente está apressado para conseguir cobrir o número de domicílios estabelecidos em determinado período. Com isso, o trabalho de conscientização nas casas não é feito e, mesmo depois de eliminada, a prática que estava errada volta a acontecer - comenta Medronho.

De acordo com a subsecretária estadual de Saúde, Alcione Athayde, no Rio, há 1.400 mata-mosquitos, quando o necessário seria o dobro. Segundo Medronho, além do número inadequado de agentes, geralmente, eles trabalham desmotivados. Para o especialista, deveria ser investido em capacitação e qualificação dos profissionais.

- Infelizmente o poder público atua dentro de padrões burocráticos, quando o ideal seria adequamento da rotina à realidade da cidade - lamenta Medronho, lembrando a dificuldade dos agentes de vistoriar comunidades onde está conflagrada a guerra pelo tráfico de drogas.

O biólogo Emir Mercadante, que desenvolveu armadilhas contra o mosquito da dengue, também aposta na mobilização da população e no trabalho dos agentes.

- Os agentes devem estar capacitados e a população mobilizada, pois 90% dos focos são domiciliares - reforça Mercadante.