Título: Projetos baratos dão prejuízo
Autor: Israel Tabak
Fonte: Jornal do Brasil, 30/01/2005, País, p. A3

Uma das principais conseqüências do cortes de despesas na área de transportes costuma ser a economia na contratação de projetos, alerta o engenheiro de transportes e consultor Fernando Mac Dowell. - Os preços costumam ficar lá embaixo e depois o prejuízo é maior. É melhor economizar em detalhes da obra. O projetista fica sem condições de se aprofundar em aspectos importantes do trabalho. Na Europa e nos Estados Unidos é o contrário. A principal preocupação é com o projeto.

Mac Dowell, que já trabalhou para o governo federal e diversos governos estaduais, está convencido de que não houve fatalidade na queda da ponte da Rodovia Régis Bittencourt.

- Pelas fotografias, fica claro que houve uma cunha de deslizamento (movimento de terra) na área onde caiu o pilar. Num projeto de rodovia, esse tipo de problema é previsível e precisa ser estudado. Quando se faz qualquer tipo de intervenção, como, por exemplo, colocar um pilar, é normalmente estudada a provável cunha de deslizamento provocada pela obra.

De acordo com o especialista, uma possibilidade é que a construção da ponte nova, ao lado da mais antiga, que ruiu, possa ter provocado o deslizamento que resultou no acidente.

- Pelo que sei, a ponte velha, que acabou ruindo já vinha apresentando problemas e teve obras de recuperação. A colocação mais afastada do pilar ou obras de contenção poderiam, talvez, ter evitado o problema - comenta o engenheiro.

Há formas mais inteligentes de economizar dinheiro, diz o engenheiro, dando outro exemplo de sua vasta bagagem como consultor rodoviário.

- Hoje há uma tendência de se construir veículos gigantes, com maior capacidade de carga, para economizar o custo do transporte. As manobras dessas carretas ficam problemáticas em estradas mais antigas, mas as autoridades resistem em fazer obras, argumentando com o alto custo da terraplenagem. Muitas vezes, no entanto, é suficiente redesenhar a sinalização horizontal da rodovia, aumentando a largura em alguns trechos da estrada, para facilitar as manobras desses veículos.

Se houver mais dinheiro e seriedade na aplicação, ''sem loteamento político de cargos técnicos'', as soluções aparecem, garante o consultor.