Título: Governo investe em paradas gays
Autor: Bernardo Mello Franco
Fonte: Jornal do Brasil, 30/01/2005, País, p. A5
Grupos homossexuais pressionam o presidente Lula, que promete R$ 1,5 milhão para a realização de desfiles este ano A promessa de destinar R$ 1,5 milhão para a realização de paradas do orgulho gay pelo país em 2005, anunciada pelo secretário da Identidade e Diversidade Cultural do Ministério da Cultura, Sérgio Mamberti, aponta mudanças na relação do governo federal com os grupos homossexuais. Sob críticas do movimento, que cobra apoio a causas como a união civil e a transformação da homofobia em crime, o Planalto enviou representantes de seis ministérios e uma carta do presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao 1º Congresso da Associação Brasileira de Gays, Lésbicas e Transgêneros (ABGLT), realizado semana passada em Curitiba.
- As coisas não são fáceis, mas o governo está empenhado em combater o preconceito e cumprir as metas do Brasil sem Homofobia - garante Mamberti.
Apresentado em maio de 2004, o programa federal, criado para unificar políticas no setor, enfrenta restrições de parlamentares e militantes gays. Elogiado pelas intenções, ainda deixa a desejar na execução, avalia o secretário-geral da ABGLT, Toni Reis.
- Estamos chateados, pois o governo não apóia a luta contra a discriminação como devia. Esperamos uma audiência com Lula há seis meses - cobra o militante, que sonha entregar um boné com arco-íris ao presidente.
Em Brasília, 80 deputados reunidos na Frente pela Livre Orientação Sexual organizam-se para levar ao plenário o projeto de união civil entre pessoas do mesmo sexo, apresentado pela ex-deputada petista Marta Suplicy há 10 anos.
- Mesmo sem votação no Congresso, os setores mais corajosos do Judiciário já vêm deferindo ações em favor de casais homossexuais que buscam os mesmos direitos civis dos heterossexuais - festeja.
Para justificar a expectativa em relação ao governo, Toni Reis argumenta que o PT sempre foi o partido ''mais afinado'' com as causas homossexuais. O dirigente anuncia esforços para pressionar parlamentares e driblar a oposição da bancada religiosa, que estima em torno de 50 deputados.
- O governo e o Congresso só funcionam sob pressão. Lula fez várias alianças para chegar ao poder, está cercado de conservadores. Por isso, precisamos de um lobby forte.
Além da união civil, o movimento gay espera a aprovação do projeto de Iara Bernardi (PT-SP) que transforma a homofobia em crime inafiançável. A deputada protesta contra artifícios regimentais que adiam a votação da matéria.
- A rejeição aos homossexuais está mais arraigada na sociedade do que o racismo e o preconceito contra mulheres.
Aliado histórico da causa dos gays, Fernando Gabeira (PV-RJ) reivindica atenção para problemas como o tratamento de portadores do vírus da Aids - segundo ele, só 17% recebem medicação adequada - e as condições de vida dos transgêneros. No entanto, critica o uso de dinheiro público para financiar as paradas gay.
- O movimento tem recursos, devia manter autonomia em relação ao governo - opina.
Coordenador do grupo Arco-Íris, Cláudio Nascimento defende o apoio às paradas.
- A invisibilidade social é a primeira violência contra homossexuais.