Título: Valores em debate
Autor:
Fonte: Jornal do Brasil, 30/01/2005, País, p. A6

PORTO ALEGRE - Estima-se que, a cada ano, ocorram de 750 mil a 1 milhão de abortos clandestinos no Brasil. Em média, 250 mil mulheres são internadas pelo Sistema Único de Saúde (SUS) vítimas de abortos inseguros. Delas, cerca de 10% morrem, influindo nos índices de mortalidade materna, e 20% ficam com seqüelas.

O aborto inseguro é praticado principalmente por mulheres negras e pobres, que não podem pagar pelo procedimento seguro em clínicas particulares. Segundo a ministra da Secretaria Especial de Políticas para a Promoção da Igualdade Racial (Seppir), Matilde Ribeiro, esse não é um tema fácil para a sociedade, nem para a igreja e nem para o governo.

- Como mulher negra brasileira, sou favorável à legalização do aborto. Entendo que o estado tem de ser laico, não pode ser neutro nem cego ao problema. Mas não é fácil reverter condutas históricas, rígidas e elitistas - reconhece.

Atualmente, a interrupção da gravidez é permitida apenas em caso de estupro ou de risco para a vida da mãe. A oposição dos setores religiosos continua sendo muito forte:

- Eles querem impor sua moral à sociedade - lamenta Gilberta Soares, coordenadora das Jornadas Brasileiras pelo Aborto Legal e Seguro.