Título: Votação em risco antes das urnas
Autor: Arthur Ituassu
Fonte: Jornal do Brasil, 30/01/2005, Internacional, p. A8

Nos últimos meses, nenhum comício foi realizado e funcionários que trabalhavam na organização do pleito foram vítimas de atentados. Além disso, os nomes dos candidatos só foram divulgados semana passada, assim como os locais de votação. Fatos como esses vêm minando a credibilidade do pleito, mesmo antes da sua realização.

A Organização para Segurança e Cooperação da Europa (OSCE), que denunciou as fraudes na eleição ucraniana, adota critérios básicos para avaliar se uma votação é ou não legítima. Ainda que tais parâmetros devam ser aplicados em caráter obrigatório apenas entre os signatários do Documento de Copenhagen, de 1990, a organização aponta o que são ''boas práticas'' a qualquer pleito.

Em um dos ítens, prevê-se que os candidatos possam fazer campanha em uma ''atmosfera livre'', sem interferência por violência ou intimidação.

''Eleitores não devem ser impedidos de obter informações e discutir sobre o assunto ou de votar livremente sem o medo de retaliação'', diz o texto.

Uma semana antes da eleição, o terrorista jordaniano Abu Musab al Zarqawi declarou ''guerra'' ao pleito e ameaçou os que pretendem comparecer às urnas. A intensificação dos ataques promete transtornos em quatro das 18 províncias do país, justamente as mais populosas: estima-se que entre 40% e 50% dos iraquianos morem nessas áreas.

Além disso, a maior parte dos observadores internacionais terá, por questões de segurança, de se manter fora do Iraque. Estarão na Jordânia, de onde receberão informações de observadores locais. Até o fim desta semana, estes seriam os únicos estrangeiros a ''monitorar'' a votação. No entanto, a comissão eleitoral, em uma operação de emergência, conseguiu que as embaixadas americana, britânica, canadense, romena e alemã cedessem pessoal. Ainda assim, apenas algumas seções serão monitoradas por estrangeiros. Serão 120 observadores internacionais no país, de 14 milhões de eleitores aptos, comparados aos 800 que observaram as eleições palestinas, onde 1 milhão foi às urnas.

David Carroll, diretor do Programa de Democracia do Centro Carter, lembra que os critérios que determinam se uma eleição é legítima - a transparência das autoridades eleitorais, do registro dos eleitores, a liberdade para votar, para se fazer campanha, a transparência na contagem, entre outros - ficam prejudicados em situações onde não há segurança.

- Decidimos não nos envolver na eleição, por considerar que o processo eleitoral não nos permitiria fazer uma avaliação confiável - disse, ao JB.