Título: Verba para índios racha o PMDB
Autor: Abade, Luciana
Fonte: Jornal do Brasil, 14/11/2008, País, p. A5

Bancada na Câmara reage às críticas de Temporão e exige que ele comprove denúncias.

BRASÍLIA

As acusações disparadas pelo ministro da Saúde, José Gomes Temporão, contra a Fundação Nacional de Saúde (Funasa) na última quarta-feira ¿ quando o ministro acusou o órgão, que integra seu ministério, de corrupção ¿ causaram mal-estar dentro do PMDB. Por trás das declarações existe uma guerra há muito tempo declarada entre o PMDB de Temporão, encabeçado pelo governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral, e o PMDB da Câmara, que tem forte presença na Funasa e apóia seu presidente Danilo Forte.

¿ As declarações do ministro foram infelizes ¿ ressaltou o líder do PMDB na Câmara, Henrique Eduardo Alves (RN). ¿ A bancada está chocada. Se ele acusa o órgão de corrupção, acusa o próprio partido e nós não aceitaremos isso. E nem qualquer acusação contra o Danilo que é competente e honesto.

Briga partidária

A origem da briga entre os peemedebistas começou quando o governo enviou ao Congresso projeto de lei que tira da Funasa a responsabilidade de cuidar da saúde dos índios. A proposta, assinada pelos ministros Temporão e Paulo Bernardo, do Planejamento, prevê a criação de uma nova secretaria, ligada ao Ministério da Saúde, que cuidaria da saúde primária dos índios. Se aprovada, a Funasa perderia os R$ 304 milhões que recebe anualmente para investir na assistência primária da população indígena.

Existe, ainda, uma rusga antiga entre os dois órgãos desde que o Centro Nacional de Epidemiologia, que ficava sob a coordenação da Funasa, passou para a Secretaria de Vigilância em Saúde, do ministério.

Alves garante que o interesse do partido não está nos recursos, mas na capilaridade da Funasa, responsável pelos saneamentos básicos das cidades com até 50 mil habitantes. Segundo o líder, o Ministério da Saúde tem feito pouco para ajudar a Funasa e, se o descaso for proposital, será inútil.

¿ O PMDB tem uma demanda enorme dos municípios pequenos que passam pela atuação da Funasa. Esse mal-estar causado pelas acusações de Temporão com certeza entrará na pauta de discussão da bancada que se reunirá na próxima terça.

Recuo

Em entrevista às rádios ontem pela manhã, Temporão tentou amenizar as declarações dizendo que estava se referindo às gestões anteriores da Funasa, "a uma série de relatórios dos órgãos de controle sobre gestões anteriores".

Para os presidentes dos Conselhos Distritais de Saúde Indígena (Consisis), a explicação não foi suficiente. Durante coletiva de imprensa realizada ontem, na Funasa, eles divulgaram uma nota de repúdio, afirmando a "ação autoritária do ministro Temporão na condução do processo de apresentação do Projeto de Lei 3958". E pediram que o ministro apresente o nome dos corruptos.

¿ Se a Funasa é uma antro de corrupção ele (Temporão) é o chefe da quadrilha ¿ declarou Ysso Truká, representante do povo Truká.

Em nota, o Ministério da Saúde afirmou que a decisão de assumir a responsabilidade pela execução da política nacional de Atenção à Saúde dos povos indígenas visa atender "aos reclamos do movimento indígena quanto às deficiências existentes". O ministério está disposto a realizar uma reunião com os 34 representantes do Consisis nos próximos dias para discutir a situação.