Título: BC muda regras para injetar R$ 40 bi
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Fonte: Jornal do Brasil, 14/11/2008, Economia, p. A19
Nova medida altera forma de recolhimento de quase 20% de todo o compulsório depositado.
O Banco Central anunciou ontem uma nova mudança nos depósitos compulsórios para colocar mais dinheiro na economia. Será alterada a forma de recolhimento de cerca de R$ 40 bilhões, o que representa quase 20% de todo o compulsório depositado hoje no BC. O compulsório adicional sobre depósitos à vista, a prazo e poupança (chamado pelo BC de "exigibilidade adicional"), que hoje é recolhido em espécie, passará a ser recolhido em títulos públicos a partir de 1º de dezembro.
A remuneração desse dinheiro, que atualmente é igual à taxa básica de juros (Selic), será agora igual à do título (IPCA, IGP-M, Selic, juros prefixados). Os bancos são obrigados a manter depositada no BC uma parte do dinheiro aplicado pelos seus clientes. Essa parcela é chamada de depósito compulsório.
Quando o BC reduz o compulsório, coloca mais dinheiro na economia, o que ajuda a aumentar o crédito nesse momento de crise.
Segundo o BC, a nova mudança visa o reequilíbrio dos volumes recolhidos em títulos e espécie, que foram alterados nas mudanças anteriores, para preservar a liquidez do sistema financeiro.
No final de setembro, todos os recolhimentos compulsórios somavam R$ 272 bilhões. Com as mudanças já anunciadas pelo BC, que diminuiu os valores a serem colhidos, o valor caiu para R$ 215,947 bilhões até o dia 7 de novembro. Ao todo, as medidas da autoridade monetária podem significar a liberação de mais de R$ 100 bilhões para injetar mais crédito na economia.
Muitas das mudanças anunciadas dependem ainda dos próprios bancos, que só terão o desconto no compulsório depois de comprarem a carteira de bancos pequenos. Outras já foram anunciadas, mas ainda não tiveram efeito na economia.
Mercado de títulos
O ajuste promovido pelo BC ontem terá um efeito prático sobre o mercado de títulos públicos, evitando assim distorções na formação de taxas de juros e no processo de rolagem da dívida pública.
No limite, a medida representaria um aumento de liquidez para os bancos de R$ 40 bilhões, mas, na prática, esse dinheiro não deve ser injetado no mercado. O uso de títulos para cobrir a obrigação, no entanto, evitará distorções que poderiam acontecer por conta de uma alteração dos compulsórios anunciada no final de outubro.
No dia 30 do mês passado, o Banco Central determinou que, a partir hoje, 70% dos depósitos a prazo que os bancos são obrigados a recolher à autoridade monetária passarão a ser feitos em dinheiro, e não em títulos. Na prática, essa alteração eliminou um mercado cativo de cerca de R$ 28 bilhões de títulos públicos, o que poderia afetar as colocações de papéis pelo Tesouro Nacional e prejudicar a formação das taxas de juros.
Com a nova medida, o BC evita a possibilidade de ocorrência dessa distorção. A autoridade monetária já havia explicado, no início da manhã de ontem, que a medida deveria recompor os volumes de compulsórios recolhidos em títulos e, ao mesmo tempo, preservar a liquidez do mercado.
Desde que a crise financeira global se acentuou, em meados de setembro, o BC já tomou diversas medidas para minimizar os impactos da turbulência internacional sobre o mercado de crédito doméstico. As regras sobre o recolhimento compulsório já foram ajustadas algumas vezes. Além disso, voltou a vender contratos de "swap", a atuar no mercado à vista de câmbio e a garantir recursos para o financiamento do comércio exterior.