O globo, n. 31964, 10/02/2021. País, p. 4

 

Teste para 2022

Gustavo Schmitt

10/02/2021

 

 

Doria faz ofensiva por candidatura à Presidência e expõe racha no PSDB

Em mais uma tentativa de viabilizar sua candidatura à Presidência da República em 2022, o governador de São Paulo, João Doria (PSDB), apresentou a integrantes da cúpula do seu partido um plano para assumir o comando do PSDB nacional, afastar o deputado mineiro Aécio Neves e abrigar dissidentes do DEM, como o ex-presidente da Câmara Rodrigo Maia (RJ). O movimento expôs uma divisão no partido e foi visto por alguns tucanos como apressado, já que ninguém na legenda havia sido consultado previamente.

A nova ofensiva de Doria, explicitada durante um jantar no Palácio dos Bandeirantes, sede do governo paulista, na noite de anteontem, acontece uma semana após o DEM ter rachado ao desembarcar do bloco de Baleia Rossi (MDB-SP), candidato apoiado por Maia e derrotado na disputa à presidência da Câmara. A eleição de Arthur Lira (PP-AL), apoiado pelo presidente Jair Bolsonaro, demonstrou que Doria não tem todos os votos da bancada federal do PSDB, que também se dividiu.

Deputados do PSDB, alguns ligados a Aécio, pretendem ir ao Rio Grande do Sul pedir ao governador Eduardo Leite que coloque à mesa sua candidatura ao Palácio do Planalto. Ao lado de Doria, o nome de Leite tem sido citado pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso como as candidaturas mais fortes da sigla.

Tucanos avaliam que Doria estaria se antecipando para expor a cisão na sigla antes da eleição para, com isso, ter certeza de que terá apoio para sua candidatura. E se, eventualmente, não houver consenso, poder justificar uma saída do partido no futuro.

No jantar, o tucano teve apoio de integrantes de seu governo, como o ex-ministro Antonio Imbassahy, que atua em Brasília para defender os interesses do estado, do presidente estadual do PSDB, Marco Vinholi, além do presidente da Assembleia Legislativa de São Paulo, Cauê Macris. No entanto, esbarrou em resistências internas. A começar por nomes experientes como o exsenador Aloysio Nunes, que avaliou que, antes de comandar o partido, Doria precisaria de apoio robusto dos correligionários, o que ele ainda não tem.

Segundo aliados, o prefeito de São Paulo, Bruno Covas, optou por uma posição moderada durante o jantar e sugeriu a Doria que fizesse, primeiro, um levantamento na sigla para verificar se há respaldo ao seu nome antes de João Doria, governador de São Paulo, ao pedir o afastamento de Aécio Neves tomar uma decisão de candidatura para comandar a sigla.

O presidente nacional do PSDB, Bruno Araújo, teria demonstrado surpresa com a pauta do encontro, já que não tinha sido avisado antes da intenção de Doria de assumir a legenda e contava permanecer no cargo até maio do ano que vem. De acordo com pessoas da direção nacional do partido, a fala de Doria também causou incômodo na executiva nacional por ter atropelado a liturgia que envolve esse tipo de assunto.

AFASTAMENTO DE AÉCIO

O plano de Doria envolve o afastamento de Aécio do partido. Além de o deputado mineiro ser réu em uma investigação de corrupção e ter sido alvo de ao menos oito inquéritos, Doria atribui a Aécio o movimento que teria levado parte da bancada do PSDB a votar em Lira.

Em coletiva à imprensa na  manhã de ontem, quando anunciou a ampliação de estações do metrô da capital, o governador pregou que a sigla deve estar unida para fazer oposição a Bolsonaro. A saída de Aécio, segundo aliados de Doria, poderia servir para reafirmar o controle do governador sobre o partido.

— Pedi o afastamento (do Aécio). O PSDB não deve abrir espaços para comportamentos desse tipo — afirmou Doria. —Os que quiserem fazer vassalagem ao Bolsonaro que tenham coragem e dignidade de pedir pra sair do PSDB.

Doria chegou a dizer que sua posição tinha a anuência de Fernando Henrique, que não se pronunciou sobre o caso. O ex-presidente deve se reunir com o governador na manhã de hoje.

Aliado de Aécio, o líder do PSDB na Câmara, Rodrigo de Castro (MG), afirmou que a discussão sobre a expulsão do deputado mineiro não é “sequer cogitada” pela bancada tucana em Brasília. “Seu afastamento do PSDB já foi objeto de deliberação da Executiva Nacional e, assim, essa discussão não é sequer cogitada no âmbito da bancada federal”, afirmou Castro, em referência à votação que livrou Aécio da expulsão em 2019. O pedido havia sido motivado pelas investigações contra o exsenador. Aécio nega todas as acusações.

Após a declaração de Doria, ele e Aécio trocaram acusações por meio de notas durante a tarde. O deputado mineiro classificou a atitude de Doria no jantar como “destemperada” e disse que o governador paulista demonstrou que pretendia “afastar o atual presidente do PSDB, Bruno Araújo, para que ele próprio assumisse a presidência”. “Se o Sr. João Doria, por estratégia eleitoral, quer vestir um novo figurino oposicionista para tentar apagar a lembrança de que se apropriou do nome de Bolsonaro para vencer as eleições em São Paulo, através do Bolsodoria, que o faça, sem utilizar indevidamente e de forma oportunista outros membros do partido”, afirmou.

O governador paulista, então, fez uma tréplica. Por meio de uma nota intitulada “Doria, Aécio e novo PSDB”, disse que o partido não pode “se subordinar” a projetos que “se perderam pela conduta inapropriada em relação à ética pública”.

_________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

Aécio é réu na Justiça de SP por áudio com Joesley

10/02/2021

 

 

> Citado em delações de empresários da JBS e da Odebrecht, Aécio Neves (PSDB-MG) foi alvo de ao menos oito inquéritos.

> Ele é réu na Justiça Federal de São Paulo desde julho de 2019. Na ação, aberta ainda no STF a partir de reportagem do GLOBO em 2017, ele é acusado de receber R$ 2 milhões de propina de Joesley Batista, da J&F. > Em abril de 2020, a PGR o acusou de receber R$ 65 milhões por obras de usinas hidrelétricas. A denúncia ainda não foi aceita.

> Em maio, foi indiciado pela PF por corrupção na construção da sede do governo de Minas. Aécio nega todas as acusações.

______________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

Após convite a Maia, tucano conversa com ACM Neto

10/02/2021

 

 

Doria tenta obter apoio do DEM a seu projeto presidencial e diz que não há 'distanciamento' com ex-prefeito de Salvador

Dois dias após convidar o ex-presidente da Câmara Rodrigo Maia (DEMRJ) para se filiar ao PSDB, o governador de São Paulo, João Doria, recebeu ontem à noite o presidente nacional do DEM, ACM Neto, para um jantar.

Doria não descarta contar com o apoio do partido nas eleições presidenciais de 2022. O vice-governador, Rodrigo Garcia, que é do DEM, é o preferido do tucano para sua sucessão.

Embora de longa data, a aliança entre PSDB e DEM têm passado por turbulências desde a eleição para a presidência da Câmara no início deste mês. Parlamentares dos dois partidos não seguiram o acordo costurado por Maia em torno de Baleia Rossi (MDB-SP) e ajudaram a eleger Arthur Lira (PP-AL), apoiado pelo presidente Jair Bolsonaro.

Além de ter liberado a bancada do seu partido para votar como quisesse, ACM Neto deu declarações nos últimos dias que foram interpretadas como um possível endosso a Bolsonaro. Em entrevista ao jornal “Folha de S.Paulo” no último dia 4, o ex-prefeito de Salvador afirmou que não poderia descartar estar com o presidente na eleição de 2022.

— Não há distanciamento na relação com ACM Neto, tanto que o receberemos junto com o ex-deputado e ex-ministro Mendonça Filho. Não rompemos esta relação, mas o nosso alinhamento sempre foi com o deputado Rodrigo Maia — disse Doria ontem pela manhã.

A cúpula do DEM ainda não decidiu o caminho que pretende seguir na eleição presidencial. Integrantes do comando da legenda veem o partido dividido entre três opções, como mostrou ontem a colunista Bela Megale. Uma delas seria apoiar a reeleição de Bolsonaro, o que é defendido pelos ministros Onyx Lorenzoni e Tereza Cristina. A segunda seria compor a base de Doria, como defende Rodrigo Garcia. E a terceira possibilidade seria indicar um novo nome para a disputa, como o apresentador Luciano Huck ou o ex-ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta. Há quem fale no partido até em apoio a Ciro Gomes (PDT).