O globo, n. 31964, 10/02/2021. Sociedade, p. 11
Quem furou a fila da prioridade deve ter a segunda dose?
Suzana Correa
10/02/2021
Médicos e MPF dizem que não completar a imunização seria desperdício; advogados e autoridades temem a 'premiação' dos infratores
Especialistas e autoridades se dividem sobre a aplicação da segundado seda vacina contra a Covid-19n aqueles que furaram a fila da imunização. Casos escandalosos de favorecimento, que incluem prefeitos, empresários e até secretários de saúde, foram denunciados desde o início da campanha. Mas, com o prazo para a aplicação da segunda dose diminuindo, ainda não há consenso sobre o que fazer com os furões.
De um lado, médicos, cientista se o Ministério Público Federal( M PF) afirmam que não completar a vacinação seria desperdício da primeira dose recebida (já que a eficácia não é garantida com apenas uma dose),e o benefício à sociedade de se vacinar corretamente o maior número de pessoas seria mais relevante que o dano moral causado.
Por outro lado, especialistas do Direito e autoridades temem que a garantia da segunda dose estimule outros a ignorar afila de prioridades.
—Do ponto de vista ético e moral, devem ser punidos. Mas, do ponto de vista da medicina, não faz sentido que essas pessoas que já foram vacinadas não recebam adequadamente a segunda dose — defende Evaldo Stanislau, diretor da Sociedade Paulista de Infectologia e médico infectologista do Hospital de Clínicas de São Paulo.
Gerson Salvador, infectologista e especialista em saúde pública, lembra que os efeitos da imunização coletiva (como queda nas internações e casos graves) só serão alcançados com o maior número de brasileiros vacinados de acordo com o protocolo.
— Desvios éticos na distribuição da vacina devem ser apurados. Mas não oferecera novado seno intervalo corre toé desperdiçara primeira.
A orientação do Gabinete Integrado de Acompanhamento da Epidemia Covid-19 do MPF, coordenado pela subprocuradora-geral Lindôra Araújo, tem aconselhado procuradores da primeira instância a evitar o desperdício de vacinas. OM PF criticou a decisão da1ª Varada Justiça Federal no Amazonas de proibira segunda dose aos furões, sob pena de prisão em flagrante. Para Lindôra Araújo, a medida “não faz sentido do ponto de vista epidemiológico”.
O médico e advogado sanitarista Daniel Dourado, pesquisador da Universidade de Paris, vê com cautela a oferta da segunda dose aos infratores, sob risco de estimular que outros também furem afila. A judicialização dos casos, com punição depois que apessoa já furou afila, também pode não ser efetiva para inibira prática, segundo ele.
—Não há fundamento ético e jurídico definitivo sobre a questão, mas punir depois da aplicação das doses gera dois gastos: o da imunização e o da mobilização do aparato legal para a punição. Oide a lé que, já na primeira dose, a população esteja consciente de que a fila existe porque há escassez de doses e grupos de maior risco.