Título: Enfraquecimento da demanda afetará fortemente o Brasil
Autor: Saltmarsh, Matthew
Fonte: Jornal do Brasil, 15/11/2008, Tema do Dia, p. A2
A confirmação de recessão na Zona do Euro é motivo de preocupação para Brasil, pois trata-se do segundo maior mercado exportador do país. Especialistas prevêem impactos mais fortes na economia nacional no início do próximo ano.
Para Reginaldo Teiji Gamba, professor de câmbio, regime e normas do Ibmec-RJ, a crise na Europa começará a afetar os exportadores daqui a um mês.
¿ De um modo geral, o Brasil será afetado, pois a Europa é um dos mercados mais importantes, mas de imediato não vai acontecer nada com os exportadores. Quem realizou adiantamento de contrato de câmbio não vai sentir a mudança do valor do dólar, mas no próximo mês, sim ¿ diz Gamba.
Nelson Ludovico, professor de comércio exterior e logística internacional da Fundação Getúlio Vargas de São Paulo, acredita que a balança comercial do Brasil será muito afetada.
¿ Se pensarmos em termos de câmbio, os exportadores serão muito prejudicados pela escassez de crédito. Os juros passaram de 7% para 19% nos últimos 30 dias ¿ explica Ludovico. ¿ As garantias desses empréstimos estão cada vez maiores. O prazo de pagamento também sofreu redução, passou de 60 para 180 dias, é cada vez mais complicado para pequenos e médios exportadores.
Segundo o economista, em relação ao mercado interno, o impacto ainda é pequeno, em torno de 15%. O setor mais afetado, de acordo com Ludovico, é a indústria automobilística e a linha branca da indústria (que produz geladeiras, eletrodomésticos). ¿ Acredito que a queda na balança comercial será de 30% em 2009.
De acordo com Marco Aurélio Cabral, professor de comércio exterior do Ibmec-RJ, o efeito será sentido mais rapidamente no comportamento das famílias e das empresas que vão deixar de comprar e investir. Além disso a concorrência entre países aumentará,
¿ As exportações para a América Latina e para a África do Sul devem se intensificar. Os destinos de exportação podem ser substituídos, mas o Brasil competirá com outros países, principalmente com a China, que deverá continuar crescendo, porém em ritmos menores ¿ supõe Cabral. ¿ Novas atividades econômicas também surgirão, mas a demanda por commodities diminuirá muito.