Título: A recessão na Zona do Euro
Autor: Saltmarsh, Matthew
Fonte: Jornal do Brasil, 15/11/2008, Tema do Dia, p. A2

THE NEW YORK TIMES

Às vésperas do encontro do G-20, em Washington, a Europa vira o centro das atenções da pauta de discussões sobre a crise financeira global. A recessão chegou à economia da Zona do Euro pela primeira vez no terceiro trimestre. O que era um temor foi confirmado ontem pela agência de estatísticas da União Européia: os abalos no mercado financeiro reduziram a atividade industrial e o consumo.

O Produto Interno Bruto (PIB) caiu 0,2% no terceiro trimestre em relação aos três meses anteriores tanto na Zona do Euro, formada pelos 15 países que usam o euro como moeda, quanto na União Européia como um todo, de acordo com a agência Eurostat. A queda no terceiro trimestre foi mais evidente na Alemanha e Itália, que entraram em recessão com contrações de 0,5% do PIB em relação ao trimestre anterior, depois de um declínio semelhante no segundo.

A França conseguiu evitar uma recessão técnica (dois trimestres consecutivos de crescimento negativo), porque a economia cresceu 0,1%. O PIB espanhol também caiu 0,2%, primeiro declínio trimestral desde 1993. O PIB holandês ficou estável, depois de estagnado no segundo trimestre, e o crescimento britânico caiu 0,5% depois da estabilidade do trimestre anterior. No Reino Unido, o PIB deverá cair 0,5% no terceiro trimestre.

Comparado ao mesmo trimestre de um ano antes, o PIB cresceu 0,7% na Zona do Euro e 0,8% nos 27 países da União Européia. Mais detalhes dos dados não foram citados na estimativa. Mas os economistas disseram que deve haver uma contração maior no PIB da Zona do Euro no quarto trimestre e que a desaceleração deve continuar no ano que vem. A economia de Hong Kong também entrou em recessão após registrar uma retração de 0,5% no terceiro trimestre, e de 1,4% no trimestre imediatamente anterior.

¿ Historicamente, recessões precedidas de episódios de estresse financeiro relacionados aos bancos tendem a ser mais profundas e duradouras ¿ explica Martin van Vliet, economista do banco holandês ING. ¿ Parece que a desaceleração induzida pela crise de crédito atual será mais dolorosa do que a ocorrida no período de 2001 a 2002, depois do estouro da bolha das empresas de internet.

Ainda assim, ele tem esperança de que medidas não-convencionais e agressivas tomadas pelos formuladores de política, incluindo grandes reduções de taxas de juros e injeções de capital nos bancos, ajudariam a pavimentar o caminho para uma recuperação gradual na segunda metade do próximo ano.

Um comunicado separado ontem mostrou que a crise econômica está afetando duramente as montadoras. A Associação Européia de Fabricantes de Automóveis, em Bruxelas, disse que as vendas de carros europeus caíram quase 15% em outubro, o sexto declínio mensal. Os registros despencaram para 1,13 milhão de veículos no mês passado, em relação a 1,33 milhão um ano antes, enquanto as vendas nos primeiros 10 meses despencaram 5,4% para 12,8 milhões de veículos.

A montadora francesa Renault confirmou também ontem que planeja cortar ainda mais a produção a fim de manter os estoques de carros não vendidos no fim do ano no mesmo nível do fim do ano passado. Em outubro, suas vendas caíram 14,1% em relação a um ano antes.

Nos EUA, as montadoras, lideradas pela General Motors, estão implorando ajuda do governo com a queda das vendas e dos preços das ações. Mas as chances de um socorro do governo para as montadoras de Detroit diminuíram, na quinta-feira, quando os legisladores democratas admitiram que vão enfrentar violenta oposição republicana para essa ajuda.

O comissionário (título dado aos ministros da UE) da Indústria da União Européia, Guenter Verheugen, esta semana, descartou ajuda para as montadoras européias além da ajuda existente para projetos de pesquisa e desenvolvimento. De acordo com analistas, a desaceleração econômica geral na zona do euro está chegando à maioria dos outros setores.

¿ Suspeitamos que a desaceleração é ampla, com estagnação no consumo e contração total tanto no investimento quanto nas exportações ¿ observa Marco Valli, economista-chefe italiano da Unicredit Markets and Investment Banking em Milão.

Olhando adiante, diz, o cenário geral não parece nada agradável, segundo pesquisas registrando queda nos negócios em outubro. A atividade industrial está em queda livre, com grandes estoques e vendas cada vez menores, conta Valli.