Correio Braziliense, n. 21079, 09/02/2021. Brasil, p. 5

 

Dez dias para esclarecer pressão

09/02/2021

 

 

O ministro do Tribunal de Contas da União (TCU) Benjamin Zymler determinou que a Secretaria de Saúde de Manaus responda, em 10 dias, se foi pressionada pelo Ministério da Saúde a usar cloroquina, ivermectina e azitromicina em pacientes acometidos pela covid-19, quando a força-tarefa da pasta esteve no Amazonas, na semana do dia 11 de janeiro –– mesmo período em que sistema de saúde da capital do estado colapsou pela falta de cilindros de oxigênio e pessoas morreram asfixiadas nos leitos dos hospitais públicos. A secretaria municipal disse que ainda não foi notificada oficialmente e só poderá se manifestar após conhecer o teor da notificação.

Poucos dias antes da visita, o ministério enviou um ofício, datado de 7 de janeiro, à secretaria de Saúde de Manaus, Shadia Hussami Hauache Fraxe, no qual pressionava a gestão da capital a prescrever medicamentos antivirais, e sem eficácia comprovada, contra a covid-19.

"Aproveitamos a oportunidade para ressaltar a comprovação científica sobre o papel das medicações antivirais orientadas pelo Ministério da Saúde, tornando, dessa forma, inadmissível, diante da gravidade da situação de saúde em Manaus a não adoção da referida orientação", diz o documento, assinado pela secretária de Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde, Mayra Isabel Correia Pinheiro. O ministério incentiva o uso da cloroquina em um protocolo elaborado, em maio do ano passado, embora o ministro Eduardo Pazuello tivesse afirmado que jamais estimulou o "tratamento precoce", mas, sim, o "atendimento precoce".

Além disso, durante a mesma visita ao Amazonas, com o sistema na iminência de entrar em colapso, Pazuello lançou um aplicativo que incentivava a utilização dos remédios no caso de sintomas que apontassem para suspeita de covid-19. O app foi tirado de circulação pouco depois.

O despacho do ministro do TCU é do último dia 5 e atende a uma representação feita pelo subprocurador-geral do Ministério Público junto ao tribunal, Lucas Rocha Furtado. No mês passado, ele deu 10 dias para que o ministério informasse sobre aquisição e fornecimento de cloroquina no tratamento de pacientes com covid-19. (MEC e ST)