O globo, n. 31963, 09/02/2021. Economia, p. 15

 

Bolsonaro sobre auxílio: “acho que vai ter prorrogação” 

Daniel Gullino

Julia Lindner

Geralda Doca

Bruno Góes

Manoel Ventura

09/02/2021

 

 

Diante da pressão do Congresso, presidente fala em linha de corte para pagar benefício a menos trabalhadores. Presidente do Senado diz que nova rodada deve ser definida esta semana e defende repasses sem depender de ajuste fiscal

Diante da pressão do Congresso, o presidente Jair Bolsonaro disse ontem que “acha” que haverá uma prorrogação do auxílio emergencial, mas não deu detalhes sobre o valor ou a duração da nova fase do programa. Em declarações anteriores, Bolsonaro havia negado a possibilidade de estender o benefício. Nos bastidores, integrantes da equipe econômica afirmam que está sobre a mesa um plano para pagar mais três parcelas de R$ 200 para parte dos beneficiários do auxílio original.

O comentário de Bolsonaro sobre o auxílio ocorreu durante entrevista à TV Band. Perguntado se haveria prorrogação do programa, ele respondeu:

— Eu acho que vai ter. Vai ter uma prorrogação. Foram cinco meses de R$ 600 e quatro meses de R$ 300. O endividamento chegou na casa dos R$ 300 bilhões. Isso tem um custo. O ideal é a economia voltar ao normal.

O presidente afirmou que está em estudo uma “linha de corte”, indicando que menos pessoas serão atendidas. A proposta é semelhante à sinalizada na semana passada pelo ministro da Economia, Paulo Guedes, que sugeriu que apenas metade das pessoas atendidas pelo programa em 2020 receba os novos repasses, o que abrangeria 32 milhões de trabalhadores.

—Agora, tem apressão? Tem. O que está sendo estudado: uma linha de corte. Foram 68 milhões de pessoas que receberam o auxílio emergencial—disse, acrescentando depois:— Até quando agente pode bancar isso daí?

PRESSÃO NO CONGRESSO

A fala de Bolsonaro ocorre no momento em que aumenta a pressão no Congresso pela extensão do benefício, e é uma mudança de tom em relação a declarações anteriores. No fim de janeiro, o presidente afirmou que a prorrogação do auxílio iria “quebrar o Brasil”. Na mesma semana, ele disse que o benefício “não é aposentadoria” e destacou que a capacidade de endividamento do governo estava no limite.

A defesa da renovação da ajuda governamental cresceu nos últimos dias no Congresso. Mais cedo, também nesta segunda, o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), disse que uma solução para a nova rodada de repasses deve ser definida ainda nesta semana. Pacheco defendeu que o pagamento não seja condicionado à aprovação de medidas de ajuste fiscal. A equipe econômica quer que o benefício só seja prorrogado caso ocorra a aprovação de uma cláusula de calamidade pública, voltada ao controle de despesas.

— Eu estou com muita expectativa, positiva mesmo, de que agente tenha uma solução disso nesta semana—disse Pacheco, em entrevista à GloboNews.

— O que não podemos é condicionara realização disso, a entrada em vigor de medidas desse tipo, porque a urgência dessa assistência social não pode esperar.

Ontem, após reunião com o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), Guedes foi perguntado sobre a prorrogação do auxílio, mas não deu detalhe sobre as negociações. Sobre se o valor seria de R$ 200 ou R$ 300, ele respondeu: uma coisa mais difícil. Nós estamos conversando, tem que ter o compromisso com a responsabilidade fiscal.

AMPLIAÇÃO DO BOLSA FAMÍLIA

Em entrevista ao GLOBO, o líder do governo na Câmara, Ricardo Barros (PP-PR), defendeu a reformulação e ampliação do Bolsa Família, proposta defendida pelo Ministério da Cidadania, como alternativa ao auxílio emergencial. Segundo Barros, é preciso ampliar os recursos do Bolsa durante a aprovação da proposta de Orçamento para zerar a fila do programa e incluir cinco milhões de famílias.

— Está na hora de executar o plano do ministro Onyx (Lorenzoni, ministro da Cidadania), de exigir não só frequência escolar como desempenho dos alunos, além de um curso profissionalizante — disse o parlamentar.