O globo, n. 31963, 09/02/2021. Mundo, p. 19

 

Democratas apostam em associar Trump à violência

09/02/2021

 

 

Julgamento começa hoje no Senado com Chances mínimas de condenação, mas partido quer tornar caso exemplar

Pela primeira vez na História, um presidente dos EUA enfrenta, a partir de hoje, um segundo julgamento de impeachment relacionado ao seu mandato. Donald Trump, agora fora da Casa Branca, é acusado de incitar apoiadores a invadirem o Capitólio, em 6 de janeiro, em um ataque que deixou cinco mortos e abalou o cenário político do país.

Como no primeiro julgamento, em fevereiro do ano passado, as chances de Trump ser condenado são pequenas: para ser considerado culpado, são necessários os votos de 67 senadores, ou seja, 17 republicanos teriam que votar contra o partido, e até agora apenas cinco se mostraram dispostos.

Para mudar o cenário de uma derrota esperada, os democratas moldam sua estratégia para tornar o julgamento didático, mostrando como as palavras de Trump questionando a lisura da eleição de novembro e incitando seus apoiadores a“ir empara o Congresso”, em comício no dia 6 de janeiro, fora moesto pimpara a invasão logo em seguida.

Como revelou ao New York Times o deputado James Raskin, principal acusador no caso, foram criados vídeos associando discursos e atos de Trumpaepis ódios de violência.O material, que foi comparado a séries de ação, inclui episódios como a conversa entre o então presidente e o secretário de Estado da Geórgia, Brad Raffensperger, na qual pede às autoridades locais que “achem votos” para revertera vitória de Joe Biden no estado.

DÚVIDA SOBRE TESTEMUNHAS

Os acusadores reconhecem que o foco será o comício que o então presidente fez no dia 6 de janeiro, atacando a confirmação da vitória de Biden que seria feita pelos congressistas horas depois. Para eles, ao apontar supostas ilegalidades na votação e pedir que os senadores e deputados republicanos se recusassem a confirmar os votos na eleição presidencial, Trump deu seu apoio a um ataque sem precedentes na História recente dos EUA.

— Mesmo com esse julgamento, no qual os próprios senadores são testemunhas, é muito importante contar toda a história — declarou ao New York Times o deputado democrata Adam Schiff, que integra a acusação. — Não se trata apenas de um dia, trata-se da conduta de um presidente que usou seu cargo para interferir coma transferência pacífica de poder.

Contudo, os acusadores ainda não fecharam questão sobre a participação de testemunhas. O próprio Trump foi chamado a depor, mas já recusou o convite, e o tema divide opiniões. Se por um lado a convocação de nomes como Brad Raffensperger poderia fortalecera narrativa contra Trump no plenário e junto ao público em geral, trazer testemunhas esticaria o julgamento em alguns dias ou mesmo semanas, atrapalhando os planos da Casa Branca para pôr em votação o quanto antes propostas prioritárias do governo Biden.

— Se eles querem chamar testemunhas, isso vai prolongar, com certeza. Acho que você está falando em empurrar o julgamento para a próxima semana ou a outra semana, uma vez que os dois lados terão essa opção disponível — afirmou o vice-líder da minoria republicana no Senado, John Thune, ao Politico.

'TEATRO POLÍTICO'

Apesar de poderem chamar testemunhas, os advogados que defendem Trump não sinalizam essa linha de ação, preferindo questionar a legalidade do processo e rejeitar as acusações.

Em novo documento entregue ao Senado com as linhas principais da defesa, Bruce Castor e David Schoen acusam os democratas de usar o impeachment para criar um “teatro político” contra uma pessoa que não ocupa mais o cargo — Trump e aliados apontam uma ilegalidade no julgamento, afirmando que o Senado pode julgar pessoas que estejam em cargos federais, e não aqueles que já deixaram esses postos.

“Ao invés de curara nação, ou ao menos processar os malfeitores que atacaram o Capitólio, a presidente da Câmara e seus aliados tentaram usar o caos daquele momento para ganho político próprio”, diz o briefing entregue pelos advogados ontem.

Schoen e Castor reforçam ainda a ideia de que o uso da palavra “luta” em seu discurso no dia 6 de janeiro foi “metafórico ”, eque ele pedia que as pessoas usassem suas vozes para que fossem ouvidas. Eles declaram também que o ex-presidente estava protegido pela Primeira Emenda da Constituição, que fala sobre liberdade de expressão, ao questionara lisura da eleição presidencial do ano passado, e por isso não deveria ser processado.

Schoen e Castor reforçam ainda a ideia de que o uso da palavra “luta” em seu discurso no dia 6 de janeiro foi “metafórico ”, eque ele pedia que as pessoas usassem suas vozes para que fossem ouvidas. Eles declaram também que o ex-presidente estava protegido pela Primeira Emenda da Constituição, que fala sobre liberdade de expressão, ao questionara lisura da eleição presidencial do ano passado, e por isso não deveria ser processado.

“Caracterizar essas declarações como ‘incitação à insurreição’ é ignorar, de forma ampla, o resto do discurso de Trump naquele dia, incluindo seu pedido para que os apoiadores ‘pacificamente fizessem suas vozes serem ouvidas’”, diz o documento.