O globo, n. 31962, 08/02/2021. Mundo, p. 17
Eleição no Equador
08/02/2021
Apuração indica 2º turno entre aliado de Correia e líder indígena
Números da contagem rápida do Conselho Nacional Eleitoral (CNE) do Equador indicaram no final da noite de ontem que a eleição presidencial será decidida no segundo turno entre Andrés Arauz, jovem economista de esquerda aliado do ex-presidente Rafael Correa, e o advogado Yaku Pérez, do movimento indígena Pachakutik, da esquerda ambientalista e rival histórico de Correa.
De acordo com as projeções do CNE, baseadas em uma amostragem de 90% dos votos depositados nas urnas, Arauz ficaria com 31,5% dos votos, contra 20,04% de Pérez e 19,97% de Guillermo Lasso, ex-banqueiro e candidato da centro-direita. As pesquisas anteriores à eleição e as sondagens de boca de urna indicavam antes que Lasso disputaria o segundo turno com Arauz.
MARGEM ESTREITA
Analistas ouvidos pelo GLOBO acreditam que os números da contagem rápida podem ser confirmados quando a apuração terminar oficialmente, apesar da pequena diferença entre Pérez e Lasso, já que o desempenho do líder indígena foi maior do que esperado em regiões fora do seu reduto nas províncias amazônicas. Na contagem oficial, com pouco mais de 8% dos votos apurados, Arauz tinha ontem à noite 32,74%,Pérez,19,56%, e Lasso, 19,35%.
Na campanha, o candidato da centro-direita disse que apoiaria Pérez se ele fosse ao segundo turno. Acredita-se que o dirigente indígena teria mais chances de derrotar Arauz do que Lasso.
Os três candidatos principais cantaram vitória ao final da votação. Arauz, de 35 anos, que foi ministro de Coordenação de Conhecimento e Talento Humano de Rafael Correa (2007-2017), chegou a sugerir que poderia vencer ainda no primeiro turno. “Ganhamos! Um triunfo contundente em todas as regiões de nosso belo país. Nossa vitória é de 2 a 1 contra o banqueiro. Parabéns ao povo equatoriano por esta festa democrática”, disse em uma rede social.
O projeto de Arauz prevê um Estado grande e presente, renegociação da dívida pública e aproximação internacional com a China. O economista diz que Correa será seu assessor externo e nega acusações de opositores sobre planos para acabar com a dolarização da economia, instituída nos anos 1990 e que foi mantida por Correa.
Já Lasso, candidato do movimento Creo e do Partido Social Cristão, dissera antes estar confiante em que estaria no segundo turno.
— O que posso dizer é que haverá um segundo turno e nós estaremos nele —disse o candidato, que disputa pela terceira vez a Presidência. Foi derrotado em 2013 por Correa, e em 2017 passou para o segundo turno, perdendo por 48,8% contra 51,6% obtidos pelo atual presidente, Lenín Moreno — então candidato de Correa e que depois rompeu com ele.
Já Pérez foi presidente da confederação indígena Ecuarunar e governador da província de Azuay. Declara-se opositor de Correa e de Moreno, e se define como representante de uma esquerda “ecológica e comunitária”. Mais cedo, ele pôs em dúvida as pesquisas de boca de urna.
—As pesquisas de boca de urna operam em função dos interesses do foragido [Correa] e do banqueiro. Somos a segunda força política do país e depois do segundo turno seremos a primeira — disse, em uma referência ao exílio do expresidentenaBélgicaesuaimpossibilidade de voltar ao país, onde foi condenado a oito anos de prisão em um processo por corrupção.
A participação eleitoral no país ocorreu, segundo o Conselho Nacional Eleitoral (CNE), em “termos normais”, apesar das restrições causadas pela Covid-19. A participação foi alta, de 76%. Na eleição presidencial anterior, sem pandemia, foi de 80%. Filas de eleitores obrigaramas autoridades eleitorais a pedirem o relaxamento das restrições impostas à entrada em locais de votação, vigiados por militares e policiais.
O segundo turno está marcado para 11 de abril. Cerca de 13 milhões de eleitores, no país de 17 milhões de habitantes, estão aptos a designar o sucessor do impopular Moreno, que não buscou a reeleição.
CRISE ECONÔMICA E SOCIAL
Uma vitória de Arauz no segundo turno se somaria ao retorno de políticas da esquerda nacionalista na América Latina, como ocorreu na Argentina e na Bolívia, e representaria um desafio para o governo dos EUA em seu duelo com a China por influência no continente. O Equador sofreu um surto brutal de coronavírus no ano passado, que deixou corpos acumulados pelas ruas de sua maior cidade, Guayaquil.
Além disso, medidas de isolamento atingiram ainda mais a economia, que já sofria com os baixos preços do petróleo, responsável por 44% do PIB. Moreno promoveu uma agenda pró-mercado na esperança de ressuscitar uma economia de crescimento lento e altamente endividada, mas que foi fortemente rechaçada pela população. Em 2019, houve 10 dias de protestos violentos contra a retirada de subsídios aos combustíveis.