Título: Reviravolta no caso da Abin: suspeito é do alto escalão
Autor: Quadros, Vasconcelo
Fonte: Jornal do Brasil, 17/11/2008, País, p. A6

Nery Kluwe, da Asbin, é o principal investigado no inquérito da PF.

BRASÍLIA

O surgimento do nome do presidente da Associação dos Servidores da Agência Brasileira de Inteligência (Asbin), Nery Kluwe, como suspeito de envolvimento com a escuta e divulgação do grampo no telefone do presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Gilmar Mendes, saiu da Abin e deve provocar uma reviravolta no caso.

A Polícia Federal, que já suspeitava do agente ¿ mas mantinha as informações sob sigilo ¿ vai intensificar as investigações esta semana. Deve chamar para prestar depoimento o ministro Jorge Felix, chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), Kluwe e outros três dirigentes da entidade, que também são apontados como suspeitos.

O nome do agente apareceu há cerca de um mês, no âmbito de uma sindicância aberta na Abin para apurar a suspeita, levantada por reportagem da revista Veja. Na quinta-feira, numa reunião com agentes na sede da Abin, o general Jorge Felix teria revelado, sem citar nomes, que já sabia quem são os agentes envolvidos numa suposta trama para derrubar da direção do órgão o delegado Paulo Lacerda, afastado pelo presidente Lula até a conclusão das investigações.

¿ Infelizmente são colegas de vocês ¿ disse o general, pedindo segredo a uma platéia com mais de 500 agentes.

Em nota, Kluwe avisou que vai requisitar a fita sobre a palestra de Félix e se defende.

¿ O pecado teria sido o vazamento provocador do imbróglio e da crise e não no reprovável, odioso e inadmissível atentado ao sigilo de autoridades ¿ explica.

Possível grampo

Policiais que investigam a origem da transcrição da conversa entre Mendes e o senador Demóstenes Torres (DEM-GO), publicada em tom de denúncia pela revista, ainda não encontraram nenhum indício de que tenha se tratado mesmo de um grampo telefônico nem de que a suposta escuta tenha partido de dentro da Abin. A única informação concreta existente no inquérito é uma cópia da reportagem em que a revista, com base num servidor não identificado, sustenta que houve o grampo e que ele partiu da Abin. Os jornalistas responsáveis pela reportagem se negaram a confirmar à polícia sequer que tenham ouvido o áudio da transcrição sobre a conversa entre Mendes e o senador Demóstenes Torres (DEM-GO).

A Polícia Federal pediu mais 60 dias de prazo para encerrar o inquérito e aposta na perícia que está sendo feita nos sistemas telefônicos do Senado, do STF, na Abin e nos seus próprios equipamentos de monitoramento ¿ o Guardião ¿ para encontrar uma pista. Dezenas de pessoas foram ouvidas, entre eles o próprio Kluwe, que negou envolvimento com o grampo.

O delegado Paulo Lacerda, afirma, em depoimento à Polícia Federal, que a Abin não tem atribuição de fazer escuta e disse que, ao assumir, recomendou que nenhum agente fizesse espionagem ilegal.

Processos contra revista

Paulo Lacerda disse que a diretoria da Asbin passou a atacá-lo depois que criou a Corregedoria para investigar desvios de agentes. Numa das sindicâncias, Kluwe é acusado de praticar advocacia administrativa e pode ser demitido.

O delegado também afirmou que a reportagem em que foi responsabilizado pelo suposto grampo foi publicada uma semana depois de ter acusado Veja de irresponsabilidade na CPI do Grampo, onde contou que abrira, na justiça, dois processos contra a revista. Afastado, junto com outros três diretores, o delegado aguarda a conclusão do inquérito da PF para decidir seu destino.