Título: Plano de ação terá ritmo incerto
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Fonte: Jornal do Brasil, 17/11/2008, Economia, p. A17
Grupo definiu medidas, mas deixou para cada país a tarefa de colocá-las em prática, a seu tempo.
O G-20, grupo de 20 países desenvolvidos e em desenvolvimento, definiu um "plano de ação" para tentar restaurar o crescimento econômico global e colocar ordem no sistema financeiro, afetado pela crise de crédito mundial. No entanto, o plano, que visa acalmar mercados e consumidores, deixou para os governos de cada país o desenvolvimento e a implementação das iniciativas. O pacote não chega a ser um compromisso global coordenado para retomar o crescimento.
Os ministros da economia dos 20 países vão desenhar medidas específicas para implementar as recomendações do plano, dentro de um cronograma fixado. O primeiro conjunto de medidas é para ser finalizado até o final de março, antes da próxima reunião do G-20, prevista para abril.
Há novos compromissos com políticas que estimulem a economia? Os líderes do G-20 prometeram "trabalhar juntos para restaurar o crescimento global" e reconheceram que a situação da economia mundial é ruim. No entanto, não se comprometeram a coordenar medidas fiscais, alegando que gastos devem ser usados "para estimular a demanda doméstica", de acordo com cada país.
A China anunciou um pacote de estímulos de US$ 586 bilhões. Nos EUA, os parlamentares do Partido Democrata querem um estímulo econômico adicional, mas não está claro se o governo de George W. Bush tomaria tal medida nos últimos dois meses de mandato.
Um dos desdobramentos mais concretos foi o compromisso por um esforço para resolver até o fim do ano os impasses nas negociações da Rodada de Doha sobre o livre comércio. No entanto, ficou claro que o sucesso não está garantido.
¿ O que precisamos agora é que essa forte demonstração de apoio se traduza em ação na mesa de negociação ¿ disse o diretor-geral da Organização Mundial de Comércio (OMC), Pascal Lamy.
Por pouco o G-20 não estabeleceu uma agência regulatória global ou um órgão supervisor do sistema bancário, algo que os europeus defendiam. Os EUA, pelo que parece, levaram a melhor na defesa que fizeram contra uma reação e uma regulação exageradas por conta da crise. Enquanto o Fundo Monetário Internacional (FMI) e um ampliado Fórum de Estabilidade Financeira (FSF, na sigla em inglês) desenvolvem recomendações para evitar a repetição do acúmulo de investimentos de risco, a maior parte das medidas será tomada pelas autoridades nacionais.
Até o fim de março, o FMI e o FSF pretendem ter recomendações para assegurar que instituições financeiras não usem avaliações impróprias e atuem com segurança para evitar quebras.
Um novo acordo de Bretton Woods ainda não está assegurado. Os líderes concordaram em rever a ordem financeira mundial estabelecida na conferência de 1944, no entanto, ficaram longe de prometer uma reforma real. O premiê britânico, Gordon Brown, defendeu uma grande mexida no sistema, dominado pelos EUA, o dólar, e o G-7, sete países mais ricos do mundo que controlam as votações no FMI e no Banco Mundial.
Ao mesmo tempo que há acordo para que países como China, Índia, Brasil, México e África do Sul tenham mais poder em instituições como o FMI, o G-20 não sinalizou como seria ou como se decidiria sobre essa nova divisão de poderes. Porém, as esperanças por um reordenamento permanecem fortes.
¿ Uma nova ordem mundial mais dinâmica e inclusiva está se desenvolvendo ¿ disse Dominique Strauss-Kahn, diretor do FMI