Título: Entenda a Rodada Doha
Autor: Costa, Gabriel; Dantas, Cláudia
Fonte: Jornal do Brasil, 18/11/2008, Tema do Dia, p. A2

A Rodada Doha foi criada em 2001, dois meses após os ataques às Torres Gêmeas em 11 de setembro, com o objetivo de discutir as barreiras comerciais entre os países em meio à crise econômica, além de tentar implementar os resultados alcançados em acordos anteriores, na chamada Rodada Uruguai, que existiu entre 1986 e 1994. Em encontro na capital do Qatar, os integrantes da Organização Mundial do Comércio concordaram em negociar pela Agenda Doha de Desenvolvimento, nome oficial do debate, a gradual redução de subsídios para incentivar a economia internacional e expandir o comércio nos países emergentes, representados pelo G-20, grupo liderado por Brasil e pela Índia. Em 2003, as negociações seguiram em Cancún (México); Genebra (Suíça), no ano seguinte; e Paris, dois anos depois. Todavia, os países pouco progrediram nas demandas dos diferentes lados ¿ enquanto Europa e Estados Unidos se opunham a fazer concessões, as nações do G-20 exigiam cortes nos subsídios agrícolas. Em julho último, o diretor-geral da OMC, Pascal Lamy, anunciou o fracasso de mais uma tentativa da Rodada Doha. O pacote apresentado pela União Européia se comprometia a reduzir em 80% os subsídios, ao limitar o incentivo para US$ 36 bilhões ao ano, enquanto os EUA propuseram diminuição de 36% nas tarifas agrícolas. Por sua vez, os países emergentes facilitariam a entrada dos produtos industrializados, além dos setores de bens e serviços públicos, com corte médio de 54% nas taxas. O ministro do Comércio da Índia, Kamal Nath, resumiu na época o descontentamento com os termos propostos ao afirmar que não haveria acordo se o país não pudesse proteger os milhões de pequenos agricultores. Apesar do esforço do Brasil e da Austrália para coordenar o acordo entre os países, Estados Unidos e o bloco encabeçado por China e Índia divergiram sobre o direito às salvaguardas agrícolas especiais dos países em desenvolvimento. Por esta prática, a cada vez que houver surto de importação de determinado produto, os governos poderão elevar as taxas financeiras. Enquanto a China e a Índia lutaram para que as salvaguardas fossem acionadas quando houvesse alta de 10%, os Estados Unidos e a Europa insistiram em que a prática fosse possível apenas quando as importações crescessem 40% sobre o preço médio dos últimos três anos. Nenhum dos lados cedeu e as discussões foram encerradas. O ministro do Comércio da Nova Zelândia, Phill Goff, evitou na época falar em encerramento absoluto, mas classificou o caso como fracasso. Em contrapartida, o representante do governo americano, David Shark, criticou a posição tomada por chineses e indianos, e sugeriu que o endurecimento das posições dos países emergentes comprometeu seriamente a Rodada Doha. Em outubro, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva comentou que a melhor resposta para a crise econômica seria retomar as negociações da Rodada Doha, e afirmou já ter conversado sobre o assunto com o presidente dos EUA, George Bush. Lula também observou que precisaria convencer o primeiro-ministro da Índia, Manmohan Singh, não favorável à retomada das discussões. De acordo com dados da própria OMC, os subsídios agrícolas somam US$ 360 bilhões ao ano. Se incluídos os incentivos às áreas de serviços e indústrias, a conta sobe para US$ 1 trilhão por ano ¿ 4% do PIB global.