Banco de dados com informações que incluem perfil do Facebook foi colocado à venda na chamada 'deep web', parte de um evento que afetou 990 milhões de pessoas globalmente, revela empresa de segurança

Um banco de dados com o número de telefone, perfil do Facebook, sexo, local de residência e de trabalho de oito milhões de brasileiros foi colocado à venda em um fórum cibercriminoso como parte de um vazamento globalqueinclui990milhõesde perfis da rede social. As informações foram confirmadas pela Harpia Tech, consultoria de segurança digital. O episódio destaca a vulnerabilidade de dados sensíveis de brasileiros na internet após uma série de megavazamentos. Na publicação feita no fórum, o responsável pelo vazamento indica que os dados foram coletados entre 2018 e 2019 por meio de falhas na interface do Facebook. — Creio que é importante considerar esse caso em perspectiva com o vazamento ocorrido em janeiro. Naquele contexto, vazaram dados de CPF, endereço, score de crédito etc. O cruzamento das duas bases permite aos fraudadores ter uma visão ainda mais ampla das vítimas, com incremento de possibilidades para o cometimento de fraudes — afirma Filipe Soares, sócio da Harpia Tech.

Na última quarta-feira, um possível megavazamento de dados foi alertado pela PSafe, empresa de segurança digital, com informações de quase 100 milhões de contas de celulares. Os dados estavam à venda na deep web ,ouachamada internet profunda, que não pode ser acessada por buscadores e navegadores convencionais.

MAIOR LEQUE DE FRAUDES

A PSafe é a mesma empresa responsável por identificar o vazamento com dados de 223 milhões de brasileiros, incluindo informações de pessoas falecidas. A Polícia Federal investiga esse megavazamento mas, até o momento, não se sabe sequer de onde teriam vindo os dados, nem se haveria uma combinação de diversas fontes ou pistas dos hackers. O GLOBO teve acesso a parte desse vazamento, que inclui informações sobre modelos analíticos desenvolvidos por empresas de proteção ao crédito e indica a probabilidade de as pessoas terem smartphones ou jogarem jogos pelo computador, entre outras dados como fotos do rosto. Segundo Soares, da Harpia Tech, essas informações abrem o leque de possibilidades de fraude para os criminosos que tiverem acesso a elas. Com o crescimento do uso de redes sociais, muitos usuários publicam informações relevantes em seus perfis que podem auxiliar fraudadores, como fotos ou dados sobre o seu cotidiano. Com a pandemia, o número de crimes cibernéticos explodiu no Brasil.

De acordo com o Relatório Anual 2020 de Atividade Criminosa On-line no Brasil, elaborado pela empresa de cibersegurança Axur, em 2020 o país ficou no topo da lista de vazamentos de dados de cartões de crédito, por exemplo, acumulando sozinho 45,4% do total de casos registrados no mundo, bem à frente dos Estados Unidos, que ficaram em segundo lugar, com 34,3%. — Com o número de telefone, é possível chegar a um número de celular, que pode ser utilizado para iniciar um ataque, por exemplo, por um aplicativo de mensagens. Adicionalmente, com o perfil do Facebook, o fraudador pode recuperar fotos e usá-las para abrir contas em bancos e fintechs que requerem selfies para validação do usuário. Claro que muitos dados na rede social são públicos, mas a junção dos diferentes fragmentos de informação viabiliza o ato criminoso. Ao fim, os dois vazamentos geram um amplo ecossistema de favorecimento a ações criminosas — ressaltou Soares, que também é ex-oficial da Agência Brasileira de Inteligência (Abin).

CONSULTA PELO BC

Para descobrir se seu CPF foi usado indevidamente em instituições financeiras, o Banco Central tem uma ferramenta, chamada Registrato, que permite consultar quais contas correntes e quantos empréstimos estão vinculados a um determinado CPF.

O cadastro pode ser feito pelo aplicativo do órgão ou pela internet. O site, no entanto, tem enfrentado instabilidade em razão da alta demanda provocada pelos vazamentos recentes.