Título: Dilma defende modelo de bioenergia
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Fonte: Jornal do Brasil, 18/11/2008, Economia, p. A18
Mas conferência promovida pelo país para promover o álcool de cana começa esvaziada.
A ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, abriu ontem a Conferência Internacional de Biocombustíveis, em São Paulo, empenhada em mostrar às 92 delegações participantes as vantagens da produção de álcool a partir da cana-de-açúcar. O governador de São Paulo, José Serra, esteve na abertura.
Dilma, que substituiu o presidente Lula no encontro convocado por ele mesmo, em 2007, rebateu os pontos contrários à produção de biocombustível e insistiu para os mais de 3 mil participantes nacionais e estrangeiros na idéia de que o álcool brasileiro é diferente de outras experiências, como a que usa o milho ou o trigo como matéria-prima.
A conferência começou esvaziada pela ausência do próprio Lula, mas, principalmente, pela pouca ambição do encontro de buscar entendimentos para uma agenda que conduza à melhoria do comércio internacional de biocombustíveis.
Nenhum representante do presidente eleito dos EUA, Barack Obama, virá a São Paulo para o evento. Obama assume o governo em 20 de janeiro e já demonstrou pouca disposição para baixar a guarda das barreiras tarifárias que bloqueiam o ingresso do álcool brasileiro no mercado norte-americano. Com o secretário de Agricultura do atual governo dos EUA, Ed Schaffer, o chanceler Celso Amorim deve apenas assinar um adendo ao memorando entre os dois países para expandir de quatro para nove a cooperação com terceiros países.
Dilma disse que a crise internacional pode ter um efeito positivo para os biocombustíveis.
¿ Pode permitir políticas anti-cíclicas que privilegiem uma agenda verde em que o biocombustível consta como prioridade ¿ afirmou, dizendo que os biocombustíveis são prioridade da agenda do presidente desde sua posse, em 2003. ¿ Já disponibilizamos R$ 10 bilhões para o biocombustível e, se necessário, liberaremos mais para que os produtores exportem e produzam.
Para ministra, a crise compromete a demanda por etanol, mas não prejudicará a produção.
¿ A bioenergia é um tema crucial para o desenvolvimento e preservação do meio ambiente de forma sustentável.
Citando dados que descrevem o Brasil como o país com matriz energética mais renovável do mundo, Dilma disse que 47,5% das necessidades de energia no país são obtidas de fontes renováveis. Número muito superior, salientou, à média mundial, de 12,9%, ou de 6,7%, entre os países da OCDE. A ministra afirmou que a cana é a segunda fonte de energia na matriz de transportes. Disse que o Brasil acaba de alcançar a marca de 7 milhões de veículos bicombustíveis produzidos.
O governo quer, na conferência, sedimentar a idéia de que o álcool deve ser adotado pelo mundo como alternativa energética para o transporte. Nessa situação, o Brasil será fornecedor natural.
¿ O mundo precisa passar por uma transição da economia do carbono para a economia do pós-carbono, talvez para a economia do hidrogênio. Mas, neste momento, é fundamental que cresça a importância dos biocombustíveis na matriz energética de transportes ¿ discursou Dilma. A ministra criticou a forma pela qual o assunto tem sido abordado no mundo, principalmente em relação à visão internacional de que os biocombustíveis (incluindo o álcool de cana) representa uma séria ameaça à segurança alimentar.
A "visão brasileira", disse a ministra, demonstra que o uso do álcool de cana como alternativa ao petróleo oferece "segurança energética e sustentabilidade ambiental". Dilma afirmou que o Brasil se consolidou como modelo alternativo ao mundo, e apresentou dados para provar que a expansão da produção de biocombustível não concorre com a produção de alimentos.