Título: Desorganização e burocracia
Autor: Rafael Baldo
Fonte: Jornal do Brasil, 30/01/2005, Brasília, p. D4

O limiar entre o programa social de inclusão social e o de caráter paternalista se resumem em três características essenciais: o estudo do perfil do beneficiado, a imparcialidade da escolha e a importância do projeto para a comunidade. Para o professor de ciências políticas Paulo Calmon, da Universidade de Brasília, nenhuma política social sai ilesa do impacto político eleitoral. - Não há nada de mal na política social, o interesse pela população é comum e, normalmente, reconhecido - reconhece o professor.

Alguns programas sociais possuem recursos federais e são amarrados ao plano de atividades do governo local. O Bolsa Atleta, por exemplo, pertence ao Ministério do Esporte. Na prestação de contas e no relatório dos 64 programas sociais, o programa é passado como pertencente ao GDF. Alguns projetos são amarrados ao governo local, mas a capacidade de gerência é muito pequena, segundo explicação do professor Paulo Calmon.

- Devemos ter clareza que o eleitor saiba rastrear quem o beneficia, mas algumas vezes o beneficiado acha que um programa do governo federal é do local, e vice-versa. Tem muita gente no País pegando carona no programa de outro - frisa.

Outra questão importante para a integração entre os projetos sociais é a comunicação entre as secretarias. O problema de estruturação e integração entre as peças do governo não é uma preocupação apenas local. O GDF reflete uma fragmentação observada no próprio governo federal. A centralização, na pessoa da vice-governadora, muitas vezes torna-se pouco efetiva pela burocracia estatal.

Somente com a fiscalização dos programas é possível saber o que acontece nas ações postas em prática, ressalta Paulo Calmon. O professor reforça outro mecanismo, possibilitando um acesso direto aos órgãos do governo. Mesmo com ações neste sentido, a resposta da sociedade civil é baixa. O professor culpa a própria desorganização social como agravante da condução de programas sociais no Distrito Federal e até em âmbito federal.

- O GDF está fazendo progressos na questão avaliativa, mas ainda não há uma cultura bem sedimentada. É preciso ouvir quem é atendido e quem precisa - afirma Calmon. Uma política sem o direcionamento correto pode criar espaço para o oportunismo, completa.