O globo, n. 31966, 12/02/2021. Economia, p. 14

 

Setor de serviços encerra 2020 com tombo de 7,8%

Carolina Nalin

12/02/2021

 

 

Resultado foi o pior já registrado. Em dezembro, houve recuo de 0,2%, interrompendo seis altas consecutivas. Muito dependente do contato presencial, setor terá retomada gradual, ditada pelo ritmo de vacinação da população, dizem analistas

Motor do PIB brasileiro, o setor de serviços se recupera lentamente após as perdas provocadas pela pandemia. Dados divulgados pelo IBGE ontem mostram que a atividade recuou 0,2% em dezembro frente a novembro, interrompendo seis meses consecutivos de alta. Com o resultado, o setor despencou 7,8% em 2020, na comparação com o ano anterior, maior queda da série histórica da pesquisa, iniciada em 2012.

Muito dependente do contato presencial, o setor de serviços sofreu muito entre março e abril e se recupera gradualmente com a flexibilização das medidas de distanciamento. O recrudescimento da Covid-19 a partir de novembro e o ritmo lento de vacinação, porém, dificultam a recuperação. A atividade encerrou o ano 3,8% abaixo do patamar pré-pandemia.

—Nada vai ser mais importante para o setor do que uma vacinação em massa, para que as pessoas percam o receio de viajar e para que caiam as restrições de funcionamento a plena capacidade dos serviços presenciais —diz Rodrigo Lobo, gerente da pesquisa.

SEM AULAS E RESTAURANTES

Os segmentos que registraram os maiores tombos no ano passado estão ligados diretamente às atividades presenciais: os serviços prestados às famílias (-35,6%), os profissionais, administrativos e complementares (-11,4%) e os transportes (-7,7%).

—O principal impacto veio dos serviços prestados às famílias, que foi pressionado pela queda na receita de restaurantes, hotéis, serviços de bufê, eventos e atividades de ensino —destaca Lobo.

O único segmento que apresentou resultado positivo foi o de outros serviços (6,7%), impulsionado pelos serviços financeiros auxiliares, que registraram aumento das receitas das empresas que atuam como corretoras.

— Com a queda da taxa de juros, famílias e empresas procuraram formas de investimento alternativas à poupança e migraram para investimentos de renda fixa ou variável —diz o pesquisa dor.

Os números do IBGE para o setor de serviços em janeiro só serão divulgados em março, mas indicadores antecedentes já mostram que o setor inicia o ano em marcha lenta. O Índice de Confiança de Serviços (ICS), medido pela Fundação Getúlio Vargas (FGV), caiu 0,7 na passagem de dezembro para janeiro.

— Em vez de consumir serviços como restaurantes, viagens e salão de beleza, as pessoas começaram a consumir produtos para o lar. Agora vamos observar uma inversão com a possibilidade de vacinação, mas precisávamos acelerar esse processo — analisa Étore Sanchez, economista chefe da Ativa Investimentos. — Não será uma explosão de crescimento, será gradativo.

O Itaú Unibanco prevê uma recuperação mais clara para os serviços a partir do segundo trimestre, com alta de 4,5% no ano.

— O setor tende a se recuperar de forma mais relevante com a vacinação, mas ainda é preciso vacinar mais gente — reforça Luka Barbosa, economista do Itaú.

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Volta do benefício ganha respaldo com dados fracos da economia real

Renato Andrade

12/02/2021

 

 

Se havia alguma dúvida sobre a volta do auxílio emergencial, ela foi dissipada diante os dados divulgados pelo IBGE nos últimos dias. Responsável por parcela significativa da economia brasileira, o setor de serviços fechou dezembro no vermelho. Foi um recuo leve, mas interrupção de seis meses de recuperação.

Na véspera, o instituto já havia revelado que o comércio também sofreu um baque no último mês do ano da pandemia. Neste caso, um tombo significativo: 6,1%.

Para a equipe da Genial Investimentos, os indicadores apontam um só caminho: “O resultado do setor de serviços em conjunto com o resultado negativo do varejo, e os indicadores antecedentes de janeiro, sugerem que a economia brasileira está caminhando para contração da atividade no primeiro trimestre deste ano”.

Esse é o elemento que faltava para fortalecer o discurso dentro do Congresso em prol de um novo auxílio.

Na prática, a manutenção de uma ajuda para a parcela mais carente da população vem sendo defendida há tempos até mesmo por organismos como o Fundo Monetário Internacional (FMI).

A discussão que sempre se colocou é que, numa nação como a brasileira, onde as contas públicas estão no brejo há anos, esse tipo de ajuda não poderia ser oferecida sem algum tipo de contrapartida que indicasse, ainda que de maneira frágil, um compromisso do Palácio do Planalto com o ajuste das despesas a longo prazo.

O ex-diretor do Banco Central e atual estrategista-chefe da Wealth High Governance (WHG), Tony Volpon, é uma das vozes do mercado que defendem essa costura.

Segundo o especialista, a adoção de algum mecanismo de contenção de despesas, que servisse como uma ponte para medidas mais robustas à frente, já abriria espaço para que o aumento dos gastos provocados pelo novo auxílio fosse digerido mais facilmente por quem está de olho na escalada da dívida pública.

A forma como o debate tem sido conduzido pelo Planalto e pela equipe econômica, ponderam outros especialistas, revela que essa amarração não foi feita e o governo corre o risco de ter um auxílio maior do que o imaginado, por tempo mais longo do que o devido e sem contrapartida fiscal.

Desta vez, faltou combinar não só com os russos, mas até mesmo com os amigos do Congresso, que falam a mesma língua do governo.