Título: GM: ações têm menor cotação em 66 anos
Autor: Americano, Ana Cecília
Fonte: Jornal do Brasil, 20/11/2008, Tema do Dia, p. A2

Papéis de montadoras desvalorizam-se e bolsas despencam

As ações das montadoras General Motors e Ford tiveram ontem fortes perdas devido à resistência política em relação ao pacote de ajuda financeira de US$ 25 bilhões para salvá-las. As ações da GM recuaram 15,65%, para US$ 2,61 ¿ o valor mais baixo em 66 anos. Já os papéis da Ford caíram para o menor preço em 26 anos (23,21%), US$ 1,29.

As bolsas de valores americanas despencaram ontem para o menor nível em cinco anos e meio, à medida que investidores se prepararam para uma longa desaceleração econômica e executivos do setor automotivo americano previram uma grande calamidade se não houver ajuda do governo. Segundo dados preliminares, o índice Dow Jones teve forte queda de 5,07%, a 7.997 pontos. O Standard & Poor"s 500 despencou 6,12%, a 806 pontos. O Nasdaq tombou 6,53%, a 1.386 pontos.

A queda livre dos preços das ações de montadoras é causada pela declaração do presidente do Comitê de Bancos do Senado dos EUA, Christopher Dodd. Ele disse não acreditar que o Congresso chegará a um acordo sobre o pacote nesta semana.

¿ Estou ansioso para ver algo ocorrer ¿ disse o parlamentar. ¿ Mas, francamente, a idéia de que isso se transformará em projeto de lei, eu acho, é remota.

Os principais executivos das montadoras passaram o segundo dia seguido no Congresso tentando convencer os parlamentares de que o pacote de ajuda é vital para que o setor automobilístico sobreviva à atual crise econômica do país.

Mercados

A Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) acumulou seu quarto pregão de baixa, acompanhando a derrocada generalizada das principais bolsas de valores mundiais. Os EUA registraram a pior deflação em 61 anos, um sinal visível de recessão. O câmbio bateu R$ 2,39, mesmo com as intervenções agressivas do Banco Central.

O termômetro da Bolsa, o Ibovespa, retrocedeu 2,02% e alcançou os 33.404 pontos. O giro financeiro foi de R$ 2,89 bilhões, bastante esvaziado, mesmo para uma véspera de feriado. No acumulado deste ano, a Bolsa acumula perda de 47,7%.

¿ Está uma onda generalizada de pessimismo. Por bem ou por mal, os governos já resolveram de alguma forma o problema financeiro, mas resta ainda o problema da economia real, que é bem mais difícil. E a Bolsa está refletindo as expectativas para os próximos trimestres, de que as margens de lucro das empresas fiquem piores devido à crise ¿ comentou Advaldo de Campos, economista da AMW Investimentos.

Segundo estatísticas da Bolsa, o saldo de investimento estrangeiro está negativo (vendas de ações superando compras) em R$ 1,2 bilhão até o pregão do dia 14. Nos últimos meses, o saldo também foi negativo. No ano, os estrangeiros já retiraram R$ 24,32 bilhões.

A principal notícia do dia foi a divulgação do indicador CPI, o índice de preços ao consumidor dos EUA, que apontou deflação de 1% em outubro. Segundo o Departamento de Trabalho americano, trata-se da maior queda para este indicador desde fevereiro de 1947. Em setembro, o mesmo índice havia ficado estável.

Dólar em alta

O dólar comercial foi cotado a R$ 2,390 para venda, em alta de 2,70% sobre a cotação de ontem. Nas casas de câmbio paulistas, o dólar turismo foi cotado a R$ 2,530, um avanço de 4,11% sobre a taxa anterior. Para tentar deter a escalada do câmbio, o Banco Central voltou a intervir de forma intensa no mercado de câmbio. Primeiro, promoveu o seu habitual leilão de swap, quando os bancos tomaram US$ 224 milhões desses contratos. Poucas horas depois, realizou um leilão de venda de dólares, mas com compromisso de recompra, sem impacto nas reservas internacionais. E às 16h50 retomou as vendas de dólares, operação deixada de lado nas últimas semanas.