O globo, n. 31960, 06/02/2021. País, p. 4

 

Redução de danos 

Paulo Cappelli

Julia Lindner

06/02/2021

 

 

Presidente do DEM tenta evitar debandada do partido com a saída de Maia

Em meio ao crack do DEM, o presidente nacional do partido, ACM Neto, tenta evitar o estouro da sigla. Ele havia liberado a saída do ex-prefeito Maia (RJ) sem a necessidade de esperar pela janela da festa, que só abrirá no ano que vem. Mas ele ficou chateado ao saber que Maia pretende levar dezenas de políticos do Dem com ela. Neto disse ontem, em conversa testemunhada por três fontes, que não vai autorizar a saída de outro nome que não seja Maia. Aliado, o ex-prefeito falou em levar para o seu futuro partido - o PSL e a cidadania são os destinos mais prováveis ​​- uma lista com cerca de 40 nomes, a maioria filiada ao DEM. São governadores, prefeitos, deputados federais e estaduais.

ACM Neto disse que mesmo a libertação de Maia pode ser repensada se o ex-presidente da Câmara insistir em articular a saída de mais políticos do partido. Se isso acontecer, Maia só poderá ingressar na outra sigla no ano que vem, após a abertura da vitrine da festa. Neto tem ligado para os políticos do Dem para garantir que eles fiquem na legenda. O núcleo de ACM Neto avalia que os mais inclinados a seguir os passos de Maia são o ex-ministro da Saúde e deputado federal Luiz Henrique Mandetta (MS), considerado presidente em 2022, e o vice-governador de São Paulo, Garcia. A Cúpula do DEM acredita que o prefeito do Rio, Eduardo Paes, que precisa de apoio financeiro da União, não sairia da lenda para não ficar chateado com o presidente Jair Bolsonaro, adversário político de Maia.

O PAES disse ao colunista Guilherme Amado, da época, que Maia está decidido a deixar o DEM e vai definir neste final de semana seu destino e possivelmente seu grupo político:

- Maia está decidida a sair do DEM. Conversamos e ele virá ao Rio amanhã (hoje) para analisar o cenário. Segundo o prefeito, o PSL é uma opção, mas ele diz que recomendou Maia para se acalmar. - Sugeri a ele que se acalmasse, assistisse ao Netflix e comesse Haagen däaz sabor crocante de caramelo para lidar com a derrota - brincou o prefeito. O globo apurou que Paes se dispõe a seguir os passos de Maia, se o ex-presidente da Câmara indicar partido e projeto político palatáveis. Foi Maia quem abriu as portas do DEM para Paes em 2018, quando o prefeito, então pré-candidato ao Palácio da Guanabara, deixou o MDB após sucessivos escândalos de corrupção envolvendo chefes de partidos no Rio. Vitorioso em uma eleição majoritária, Paes não teria que esperar a janela de transferência para sair do DEM, ao contrário dos deputados da sigla.

Se a escolha de Maia for o PSL, o prefeito do Rio vai pedir um detalhamento dos planos do partido, que hoje está recheado de bolsonaristas. A executiva nacional do PSL, no entanto, estima que esta ala saia do partido na janela de transferências, migrando para a sigla que será indicada por Bolsonaro e, assim, abrindo espaço para Maia e seus aliados. Outro que se inclina a seguir os passos da Maia é o deputado federal Pedro Paulo, que se formou na Câmara para assumir a Fazenda na gestão do Paes. Maia também manteve conversações com a cúpula da Cidadania.

ACM NETO SE JUSTIFICA

Em vídeo divulgado ontem por seu gabinete, ACM Neto disse que a sigla não busca aproximação "neste momento" com o governo.

—A posição dos democratas, adotada desde 2018, após a eleição do atual presidente da República, era de independência. Assim fomos e continuaremos a ser. Não há movimento neste momento de reaproximação com a base de governo ou interesse em se tornar a base de governo. Nunca concordei em discutir ou negociar posições ou espaços. Não faço política assim - disse Neto, na gravação. Ele também negou a possibilidade de ser candidato a vice-presidente da República em 2022. Em entrevista ao GLOBO, anteontem, Neto admitiu que parte da sigla tem preferência por apoiar a reeleição de Bolsonaro. - Quem me conhece sabe quais são as minhas prioridades. Você sabe que não serei candidato a vice-presidente da República, nem ao Bolsonaro, nem a qualquer outro candidato.

_______________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

ACM Neto teme fama de governista após convite a aliado

Natália Portinari

Jussara Soares

06/02/2021

 

 

Ex-chefe de gabinete do presidente do DEM, deputado João Roma foi indicado pelo Republicanos para virar ministro da Cidadania

Sob fogo cruzado das alas governantes e independentes do DEM, o presidente do partido, ACM Neto, tenta impedir um aliado, João Roma (Republicanos-BA), de se tornar ministro da cidadania. Ele foi indicado pelo deputado Marcos Pereira (SP), presidente dos republicanos, mas ACM Neto teme que seu nome esteja associado à nomeação, já que Roma é sua ex-chefe de gabinete.

Neto é alvo de críticas da ala que quer marchar com Jair Bolsonaro em 2022, como o governador de Goiás, Ronaldo Caiado. Ele também enfrenta ameaça do deputado RodrigoMaia (DEM-RJ), ex-prefeito, ao deixar a sigla após ter se sentido abandonado na eleição para a presidência da Câmara. Ele e outros deputados querem se tornar independentes. Em meio a essas tensões na legenda, o ex-prefeito de Salvador acredita que a nomeação de um ministro que possa estar vinculado a ele colocaria em xeque a imagem que quer passar a independência. Nos bastidores, ele tenta derrubar a indicação. Os republicanos já sinalizaram ao Palácio do Planalto que o deputado João Roma segue como opção do partido em assumir o Ministério da Cidadania. E, no governo, sua nomeação já é considerada certa, apesar das possíveis pressões que podem ocorrer até a publicação no Diário Oficial da União. O Ministério da Cidadania é uma das Esplanadas mais disputadas por ser o responsável pelo Bolsa Família. A carteira também administrou a ajuda emergencial paga durante a pandemia, cujo retorno é discutido no Congresso e no governo. A proximidade de Roma com ACM Neto é vista como positiva pelo presidente Bolsonaro, que nunca escondeu o desejo de ter o ex-prefeito de Salvador mais perto. Após a eleição para as presidências da Câmara e do Senado, a expectativa é que as mudanças no primeiro escalão ocorram após o Carnaval.

O Ministro da Cidadania Totual, Onyx Lorenzoni, assumirá a Secretaria-Geral da presidência. A carteira está ocupada por um interino desde que Jorge Oliveira tomou posse no Tribunal de Contas da União (TCU), no final do ano passado. Os aliados de Bolsonaro no Congresso já admitem que as primeiras mudanças devem ser pequenas, mas esperam que aos poucos o presidente faça mais trocas nos ministérios. Políticos do Centrão defendem substituições em Saúde, Desenvolvimento Regional e Itamaraty.