O globo, n. 31960, 06/02/2021. País, p. 7

 

Lula indica Haddad como pré-candidato a Presidência em 2022

Sérgio Roxo

06/02/2021

 

 

Ex-ministro deve começar a rodar o país antes de julgamento do Supremo que pode liberar ex-presidente para concorrer

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva orientou o ex-prefeito Fernando Haddad ao rodízio do país apresentando-se como pré-candidato do PT à Presidência da República em 2022. Os dois se reuniram no último sábado e avaliaram que não é possível aguardar o julgamento da suspeita do ex-juiz Sérgio Moro, que pode anular as condenações de Lula e devolver seus direitos políticos.

—Lula me disse que não dá mais tempo e eu preciso colocar o quarteirão na rua - Haddad disse ao mundo. O anúncio já repercutiu em outras figuras da esquerda, como o também presidencial em 2018 Guilherme Boulos (PSOL), nome próximo a Lula e para quem é preciso "discutir projeto antes dos nomes". Ex-ministro da Educação e ex-prefeito de São Paulo, Haddad recebeu 47 milhões de votos no segundo turno de 2018 contra Jair Bolsonaro. O petista esteve em Brasília esta semana para comunicar seus planos para as bancadas da Câmara e do Senado. - Vamos começar a fazer agendamentos nos finais de semana, claro, com os cuidados devido à pandemia - acrescentou Haddad. Internamente, o ex-ministro não é o único nome interessado nas eleições presidenciais. O governador da Bahia, Rui Costa, também alimenta o desejo de ser candidato do PT, se Lula estiver mesmo fora da disputa. O ex-presidente está impedido de disputar as eleições por causa das condenações no Lava-Jato nos casos do triplex e do sítio de atibaia, que já atingiram órgãos superiores. O Supremo Tribunal Federal (STF) deve julgar nos próximos meses se Moro foi parcial nas ações contra o petista, como alega sua defesa. Se as condenações forem revogadas, Lula terá liberdade para disputar eleições. Há dúvidas, porém, entre os petitistas se o ex-presidente estaria realmente disposto a concorrer novamente à presidência, mesmo que receba luz verde do STF. Pesa a idade, 75 anos, e o fato de Jair Bolsonaro ainda aparecer como um forte candidato. De acordo com pesquisa Datafolha divulgada em 25 de janeiro, 31% dos entrevistados consideram o mandato do presidente ótimo ou bom - outros 40% classificam-no como ruim ou ruim. Anteontem, em entrevista ao UOL, a presidente do PT, Gleisi Hoffmann, disse que, se Lula não pode concorrer, Haddad aparece como um nome "quase natural". Ela também citou como possíveis candidatos os governadores Rui Costa, Camilo Santana (Ceará) e WelligtonDias—Lula me disse que não dá mais tempo e eu preciso colocar o quarteirão na rua - Haddad disse ao mundo. O anúncio já repercutiu em outras figuras da esquerda, como o também presidencial em 2018 Guilherme Boulos (PSOL), nome próximo a Lula e para quem é preciso "discutir projeto antes dos nomes". Ex-ministro da Educação e ex-prefeito de São Paulo, Haddad recebeu 47 milhões de votos no segundo turno de 2018 contra Jair Bolsonaro. O petista esteve em Brasília esta semana para comunicar seus planos para as bancadas da Câmara e do Senado. - Vamos começar a fazer agendamentos nos finais de semana, claro, com os cuidados devido à pandemia - acrescentou Haddad. Internamente, o ex-ministro não é o único nome interessado nas eleições presidenciais. O governador da Bahia, Rui Costa, também alimenta o desejo de ser candidato do PT, se Lula estiver mesmo fora da disputa. O ex-presidente está impedido de disputar as eleições por causa das condenações no Lava-Jato nos casos do triplex e do sítio de atibaia, que já atingiram órgãos superiores. O Supremo Tribunal Federal (STF) deve julgar nos próximos meses se Moro foi parcial nas ações contra o petista, como alega sua defesa. Se as condenações forem revogadas, Lula terá liberdade para disputar eleições. Há dúvidas, porém, entre os petitistas se o ex-presidente estaria realmente disposto a concorrer novamente à presidência, mesmo que receba luz verde do STF. Pesa a idade, 75 anos, e o fato de Jair Bolsonaro ainda aparecer como um forte candidato. De acordo com pesquisa Datafolha divulgada em 25 de janeiro, 31% dos entrevistados consideram o mandato do presidente ótimo ou bom - outros 40% classificam-no como ruim ou ruim. Anteontem, em entrevista ao UOL, a presidente do PT, Gleisi Hoffmann, disse que, se Lula não pode concorrer, Haddad aparece como um nome "quase natural". Ela também citou como possíveis candidatos os governadores Rui Costa, Camilo Santana (Ceará) e Welligton Dias (Piauí) e o senador Jaques Wagner (Bahia).

PESQUISA POR UNIDADE

O "lançamento" de Haddad como provável candidato do PT gerou reações na esquerda. Boulos, que mostrou força ao ir para o segundo turno da disputa pela cidade de São Paulo no ano passado, também defendeu que a esquerda " buscar a unidade para enfrentar o Bolsonaro. "- Para isso, antes de lançar nomes, é preciso discutir projeto - disse ele, por meio de suas redes sociais. Se se consolidar ainda como candidato, Haddad terá a missão de unir o PT. As divisões do partido ficou explícito na eleição para prefeito do início da semana A deputada Marília Arraes (PE) decidiu concorrer ao comando da vice-secretária do Conselho de Administração mesmo contra a decisão do partido de indicar José Daniel (SE) para o cargo.

da festa, pernambucana foi acusada de ter feito um acordo de bastidores com o prefeito Arthur Lira (PPAL). No final, derrotou o colega de partido por 192 a 168. - A atitude de Marília não foi correta com o partido - disse Gleisi.

O presidente do PT acrescentou que o caso deve ser analisado pelos órgãos partidários. No ano passado, a Direção Nacional impôs às lideranças do partido em Pernambuco que Marília fosse candidata à Prefeitura do Recife. Perdeu no segundo turno para o primo João Campos (PSB).

Líder do PT avalia que Marília deve sofrer retaliação política. A ideia é que o PT não apóie sua pretensão de disputar o governo de Pernambuco em 2022, o que abriria caminho para a retomada da aliança com o PSB. Marília nega ter traído a festa. Além desse episódio, a má atuação de Baleia Rossi (MDB-SP) contra Lira, gerou cobranças internas pela decisão do partido de apoiar o emedebista. "Foi um erro aliar-se a um derrotado", disse Washington Quaquá, um dos vice-presidentes nacionais do partido.

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Petista reduz pressão sobre STF e prepara terreno para não disputar eleição de 2022

Sérgio Roxo

06/02/2021

 

 

Convicções. Lula em votação nas eleições municipais do ano passado: ex-presidente tem especial preocupação sobre como será tratado pela história
Ao elevar Fernando Haddad ao posto de pré-candidato do PT ao Palácio do Planalto em 2022, o ex-presidente Lula alivia a pressão política sobre o julgamento da suspeita do ex-juiz Sérgio Moro pelo Supremo Tribunal Federal (STF) e, ao mesmo tempo, prepara o terreno para eventualmente ficar de fora da eleição, mesmo que recupere o direito de concorrer.

O STF deve julgar o habeas corpus de Lula nos próximos meses. Os petitistas acreditam que os ministros estão convencidos, por causa das trocas de mensagens entre os promotores e o então juiz apreendido na operação Spoofing, de que Moro não estava isento no julgamento do ex-presidente. No entanto, teme-se que o Supremo Tribunal Federal, ao anular as condenações da lavagem a jato paranaense, tenha medo de dar automaticamente a Lula o cargo de candidato.

Com Haddad nas ruas, o PT tenta mostrar que tem opção pela eleição presidencial e a candidatura de Lula não é a única tábua de salvação do partido. Na cruzada que se move desde que veio a ser investigada, o ex-presidente Lula expressa uma preocupação especial em como será tratado pela história. Neste contexto, a anulação de condenações é central, independentemente da possibilidade de contestação de novas eleições.

Ainda de olho na biografia, entrar na corrida presidencial com risco de derrota não convém a Lula. Para o petitista, só importa competir para vencer. Recuperar direitos políticos e perder a eleição para Jair Bolsonaro significaria um fim trágico para sua carreira. Ao colocar Haddad como pré-candidato, o ex-presidente ganha tempo para ver o cenário se consolidar. Se o Supremo rejeitar suas convicções e as urnas lhe derem a perspectiva de vitória, ele pode entrar em campo alegando que está atendendo a um chamado do povo. Caso isso não aconteça, ele deixa a batalha para o aluno.