O globo, n. 31960, 06/02/2021. Sociedade, p. 10

 

Pan­de­mia le­vou 29% dos pais a aban­do­na­rem ou­tras va­ci­nas

Rafael Garcia

06/02/2021

 

 

Calendário de crianças foi prejudicado pelo medo de filhos contraírem Covid

Cerca de 29% dos pais deixaram o calendário de vacinação de seus filhos atrasar na pandemia, principalmente por medo da Covid-19, aponta uma pesquisa do Ibope encomendada pela farmacêutica Pfizer. Realizada por meio de mil entrevistas telefônicas com famílias de todo o país em outubro passado, o levantamento teve os resultados divulgados agora para coincidir com o início do ano letivo. A ideia, segundo a Pfizer, era que os números servissem de alerta para o fato de que os estudantes com atraso vacinal podem correr mais risco com outras doenças que circulam na escola do que com o coronavírus, que não costuma afetar crianças com tanta gravidade. —Entre os pais, o medo de a criança adoecer por Covid-19 foi maior do que o de elas contraírem doenças muito mais frequentes e muito mais letais, que deixam sequelas mais graves—contaJu li aS p in ardi, líder medica de vacinas da Pfizer Brasil. A pesquisa é parte da série "Mais que um Palpite", uma campanha contra fake news na área de saúde patrocinada pela empresa. Um dos objetivos era identificar percepções erradas entranhadas no público. A pesquisa demonstrou, por exemplo, que enquanto o coronavírus era temido por 75% dos pais, a meningite figurava como uma preocupação para apenas 57%, e a poliomielite, para 52%. Mesmo a gripe, que tem variedades particularmente agressivas em crianças, pontuou baixo no levantamento, com apenas 9% dos pais se mostrando preocupados.

— Vimos que de 40% a 50% das famílias tiveram interrupção nas consultas de rotina com seus filhos no pediatra. Isso é bastante grave, porque outras situações que poderiam ser alertadas pelos médicos vão passar despercebidas —alerta Spinardi.

Segundo o infectologista Renato Kfouri, presidente do Departamento de Imunizações da Sociedade Brasileira de Pediatria, a pesquisa mostrou o pano de fundo que provocou a queda da cobertura vacinal no país no último ano: — Nenhuma das vacinas atingiu a meta do Programa Nacional de Imunização, que é 90% a 95% de cobertura — explica Kfouri. — Elas oscilavam entre 80% e 85%, e sabíamos que em 2020, diante da Covid-19, o cenário pioraria, e agora caíram para 60% a 65% as crianças vacinadas. Entre as famílias que disseram ter atraso no calendário vacinal dos filhos, dois terços revelaram ter intenção de recuperar o cronograma em breve, e um terço afirmou que prefere esperar o fim da pandemia para voltar a imunizar os filhos. Segundo Kfouri, a concentração da preocupação das famílias com a Covid-19 prejudicou as crianças: — A ideia de proteção que se transmitiu para os pais foi a de ficar em casa. Só que esse ficar em casa precisaria ocorrer sem deixar de cuidar da saúde, e sem deixar os pais esquecerem que a vacinação é um serviço essencial.