Título: Sinal amarelo para a economia
Autor:
Fonte: Jornal do Brasil, 20/11/2008, Opinião, p. A8

Os resultados da Pesquisa Mensal de Emprego apresentados ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mantêm o suspense em relação aos efeitos que a crise financeira mundial poderá produzir no Brasil. O rendimento médio real dos trabalhadores teve a maior queda, desde janeiro de 2006, em outubro ante setembro. A culpa é creditada ao aumento de 0,5% do Índice Nacional de Preços ao Consumidor médio das regiões pesquisadas, na opinião de Cimar Azeredo, coordenador do estudo. Por outro lado, a pesquisa mostra que a taxa de desemprego nas seis principais regiões metropolitanas do Brasil apresentou modesto recuo em relação ao mês anterior (embora tenha atingido o segundo menor patamar da história). A redução do desemprego no mês mostra que as contratações temporárias, comuns a este período do ano, não foram cerceadas diante da crise que o país terá de enfrentar.

Analisados isoladamente, os dados oferecem argumentos para o Banco Central manter a taxa Selic no nível atual ¿ um dos mais altos do planeta. Vai ficando mais evidente o espectro inflacionário, que deixa seu rastro nos salários dos consumidores. Por outro lado, o achatamento do poder de compra de grande parte dos brasileiros arrefece o anseio de que a manutenção do consumo no mesmo nível poderá ser a porta de saída honrosa para a crise financeira internacional, que já mostra suas garras em nossa economia real. Fato que requer cuidado das autoridades monetárias e do governo.

Enquanto isso, o comportamento da inflação na Europa e nos EUA trilha um caminho inverso, com a desaceleração econômica lastreada por quedas brutais de preços. Nos Estados Unidos, houve a maior redução desde 1947. O fantasma da deflação carrega o temor de um acirramento ainda maior da recessão com a redução de postos de trabalho diante da possibilidade de empresas verem as rentabilidades escoarem pelo ralo. Governos de países desenvolvidos vêem-se agora às voltas com o medo de uma paralisação econômica iminente e sinalizam com novas quedas de juros. Caminho natural diante de um cenário tão turbulento. Porém, os americanos vivem a situação mais desesperadora, com juros a patamares já tão baixos, depois de drásticas reduções de 5,25% ao ano para 1% ao ano, que deixou pouca margem para enfrentar a temida deflação usando o devido artifício do estímulo ao reaquecimento da economia através de taxas de empréstimos atraentes.

Por mais que o presidente Lula discurse orgulhosamente que o Brasil está blindado contra a crise financeira internacional e seus ministros assinem embaixo, a análise das situações ambíguas vividas aqui e nos países desenvolvidos, principalmente nos EUA, requer cautela. O governo federal não pode e não deve descuidar da possibilidade de contaminação com o pessimismo instalado em cenários exteriores. O mundo é globalizado. No caso da inflação, o risco é mais grave. Se os americanos assistem à emergência do fantasma da deflação, o Brasil ainda guarda na memória os perigos do passado. Embora fantasmas inflacionários estejam distantes do enredo que protagonizaram até a metade dos anos 90, quando os preços aumentavam do dia para a noite, nada garante que o país esteja isento do fenômeno. O governo precisará dedicar-se com desvelo a estes movimentos.