Correio Braziliense, n. 21088, 18/02/2021. Política, p. 4

 

Intolerância e ódio permanentes

Jorge Vasconcellos 

18/02/2021

 

 

Um dos fiéis aliados do presidente Jair Bolsonaro, o deputado federal Daniel Silveira (PSL-RJ), que foi preso pela Polícia Federal após publicar um vídeo com ofensas e ameaças a ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), é mais conhecido pelo discurso de ódio que adota do que pela atuação parlamentar. Ex-policial militar do Rio, professor de muay thai, ele saiu do anonimato em 4 de outubro de 2018, durante a campanha na qual se elegeu para a Câmara. No dia, o então candidato quebrou uma placa que fazia homenagem à vereadora do PSol Marielle Franco, assassinada a tiros, em março daquele ano, com seu motorista, Anderson Gomes.

Daniel foi eleito deputado federal com mais de 31 mil votos, após uma passagem pela PM marcada por várias punições, incluindo 26 dias de prisão e 54 de detenções, resultantes de mau comportamento. Na Câmara, a situação é semelhante. Ao longo de pouco mais de dois anos de mandato, problemas de natureza ético-disciplinar acompanham o parlamentar no dia a dia. Ele é, por exemplo, um dos investigados pela CPI Mista das Fake News, que apura um esquema de disseminação de notícias falsas.

O deputado federal também é alvo de uma representação no Conselho de Ética da Câmara por ter gravado uma reunião reservada do PSL, em que se discutia a disputa pela liderança do partido. O áudio foi, posteriormente, divulgado por diversos veículos de comunicação. A gravação incluía um trecho em que o deputado Delegado Waldir (PSL-GO) ameaçava "implodir" o presidente Jair Bolsonaro, a quem chamou de "vagabundo".

No STF, ex-PM é investigado em dois inquéritos. Um deles foi aberto contra uma organização criminosa dedicada à produção e divulgação de fake news, enquanto o outro investiga o financiamento e promoção de atos antidemocráticos, que pregam intervenção militar e o fechamento do Congresso e do STF.

Como se não bastassem tantos problemas, o parlamentar arrumou tempo para importunar alunos do tradicional colégio Pedro II, no Rio de Janeiro. Em 11 de outubro de 2019, acompanhado do deputado estadual Rodrigo Amorim, Silveira fez uma vistoria surpresa na instituição de ensino. Em determinado momento, ele parou em frente a um mural com recortes de jornais e passou a questionar uma notícia que dizia que, a cada 13 minutos, morria um jovem negro no estado. Na conversa com o reitor do colégio, insinuou que uma das vítimas, uma criança negra de 8 anos de idade, poderia ser "bandido".
Na ocasião, o reitor anunciou que faria uma representação nos conselhos de ética da Câmara dos Deputados e do Congresso Nacional e da Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj), porque os dois parlamentares do PSL estavam fazendo imagens sem autorização no local, com a presença de crianças. Os estudantes também reagiram, e os deputados deixaram o colégio sob gritos de "Ô, Marielle, quero justiça, não aceitamos deputado da milícia".

Em outro episódio, ocorrido em 8 de novembro de 2019, Daniel Silveira foi ao Twitter para ameaçar o STF, afirmando que "se precisar de um cabo, estou à disposição". A declaração fazia referência a uma fala do deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) de que bastariam apenas um cabo e um soldado para fechar o tribunal. A manifestação de Silveira foi feita em protesto contra a decisão do STF que considerou inconstitucional a prisão após condenação em segunda instância.

Primeira passagem
Antes de entrar para a PM do Rio, Silveira era cobrador de ônibus. Nesse período, ele teve a sua primeira passagem pela polícia, acusado de fraudar atestados médicos. O Ministério Público denunciou o deputado e outros seis colegas da empresa de ônibus por falsidade material de atestados.

Por causa dessa investigação e registro por brigas de rua, o setor de pesquisas da PM recomendou a não aprovação de Silveira no concurso de 2010. Ele recorreu à Justiça e conseguiu entrar na corporação.