Correio Braziliense, n. 21088, 18/02/2021. Cidades, p. 14

 

DF tem vacinas para mais uma semana

Edis Henrique Peres

Ana Isabel Mansur 

18/02/2021

 

 

Após o feriado de Carnaval, a campanha de vacinação contra a covid-19 no Distrito Federal recomeçou, ontem, às 14h, nas unidades básicas de saúde (UBSs). O serviço de drive-thru, por outro lado, volta a funcionar hoje, das 8h às 17h, nos 11 pontos definidos pela Secretaria de Saúde (SES-DF). Apesar da continuidade, o número de imunizantes disponíveis em estoque para a primeira aplicação é de 11.762 doses — o suficiente, em média, para mais uma semana de atendimento.

Esta quarta-feira, o DF vacinou 111.028 pessoas com a primeira dose e 9.895 com as duas. O secretário de Saúde, Osnei Okumoto, confirmou a chegada de novas unidades de vacinas na terça-feira. Contudo, a quantidade a ser repassada pelo Ministério da Saúde ainda é desconhecida. "Não sabemos quantas doses serão enviadas. Inclusive, solicitamos mais, para compensar aquelas que usamos em pacientes do Entorno. Calculamos que tenham sido cerca de 20 mil unidades, mas ainda não temos confirmação se as novas doses serão enviadas", afirmou o secretário.

Questionado sobre a possibilidade de o DF negociar compra de vacinas por conta própria, Okumoto demonstrou estar aberto à possibilidade, desde que haja autorização do Governo Federal para o uso de outros imunizantes além da CoronaVac e da Covishield. "Alguns estados tentaram, mas ninguém comprou, porque não há autorização federal. Conversamos com algumas fábricas, mas não divulgamos, por entender que, enquanto não houver liberação por parte do ministério (da Saúde), ninguém conseguirá comprar. Não há como atravessar esse caminho. Conversamos com a Pfizer, com o Instituto Butantan (em São Paulo) e visitamos a fábrica da União Química (no DF), mas não houve nenhum tipo de tratativa para compra, acerto de preço, nem confirmação de compromisso", ressaltou Osnei.

Até o momento, o DF recebeu 204.060 doses de imunizantes — tanto da CoronaVac, produzida pelo Instituto Butantan em parceria com a farmacêutica chinesa Sinovac, quanto da Covishield, desenvolvida pela universidade inglesa de Oxford com a farmacêutica sueco-britânica AstraZeneca. Ontem, na fila de vacinação da UBS nº 2 do Cruzeiro Velho, Maria Alice Santos, 58 anos, aguardava ansiosa para receber a primeira dose. "Estou, há muito tempo, nessa expectativa. Atuo na linha de frente da pandemia desde o começo. A vacina é uma esperança, para todos nós, de que conseguiremos vencer a pandemia", disse a assistente social.

Para o diretor científico da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI) do DF, José David Urbaez, a vacinação no modelo atual é insuficiente para conseguir combater o avanço da pandemia. "O impacto que temos com esse número de vacinados — menos de 3% da população — é muito pequeno em um combate pandêmico. Medidas restritivas realmente seriam importantes para conseguirmos conter o avanço da doença, que é mais transmissível com a nova variante", destacou.

O especialista lembrou que as mutações são um comportamento normal dos vírus e que, em um cenário de descontrole, haverá espaço para "muitas outras variantes". "No Brasil, temos pouquíssimas ações de sequenciamento (de genomas de vírus). Não temos uma rede nacional desempenhando esse papel, e não é por falta de profissionais adequados, é por falta de interesse. É claro que a circulação (de pessoas) em altas taxas vai gerar essas variantes", alertou José David.