O globo, n. 31959, 05/02/2021. Sociedade, p. 10

 

Com atraso, Fiocruz vai começar produção de vacina

Chico Otavio

Evelin Azevedo

05/02/2021

 

 

 Recorte capturado

Saúde deve receber 7,5 milhões de doses em março. Primeiro dos 14 lotes do insumo necessário ao envase da AstraZeneca/Oxford pela fundação Chegará ao Rio amanhã à tarde, vindo da China. Remessa era prevista para janeiro

Com a chegada do primeiro lote, de 225 litros, do ingrediente farmacêutico ativo (IFA) da vacina AstraZeneca/Oxford, a Fiocruz estima que vai entregar 7,5 milhões de doses envasadas no Brasil no início de março. Houve atraso na entrega do insumo, que levou à demora no início da produção de imunizantes pela fundação. Em janeiro, eram esperados pelo menos dois lotes de IFA, suficientes para 15 milhões de doses.

O insumo, vindo da China, chegará ao Aeroporto do Galeão, no Rio, amanhã à tarde. O atraso ocorreu porque a carga teve que aguardar a licença de exportação e a conclusão dos procedimentos alfandegários pelas autoridades chinesas.

A expectativa agora é que os demais 13 lotes sejam enviados respeitando o intervalo de duas semanas entre cada remessa, como descrito no acordo firmado no ano passado, já que a documentação para exportação do primeiro lote servirá para os demais. Com isso, a Fiocruz poderá produzir 15 milhões de doses por mês.

As primeiras vacinas envasadas pela Fiocruz deveriam ser liberadas para o Ministério da Saúde entre 8 e 12 de fevereiro. O prazo passou a ser março. Está mantido, porém, o plano de entregar 100,4 milhões de doses até julho e mais 110 milhões ao longo do segundo semestre, totalizando 210,4 milhões em 2021.

O contrato entre Fiocruz, AstraZeneca e a Universidade de Oxford prevê também a transferência de tecnologia para que a Fiocruz produza o IFA no Brasil, sem ter que importá-lo da China. O acordo de setembro de 2020 diz que o laboratório anglosueco transferiria à fundação o conhecimento técnico necessário ao processamento final e envase da vacina. Já a transferência de tecnologia específica para a produção do IFA seria objeto de um novo acordo, que ainda não foi assinado.

Para contornar o atraso do IFA, em dezembro o governo federal fechou a aquisição de dois milhões de doses prontas da vacina AstraZeneca/Oxford com o Instituto Serum, da Índia, que também atrasaram pela demora da liberação da exportação pelo país asiático. Há ainda um acordo em andamento para o envio de outras 10 milhões de doses pelo Serum.

A previsão é que a produção da vacina contra a Covid-19 se inicie com 700 mil doses por dia e chegue até o final de março à capacidade de 1,4 milhão de doses por dia. Isso porque, no próximo mês, a Fiocruz passará a operar com duas linhas de produção da vacina.

Neste momento, a segunda linha de produção está em validação. Segundo a Fiocruz, as instalações e equipamentos já faziam parte do parque fabril de Bio-Manguinhos e não houve necessidade de grandes ajustes, pois eram utilizados para a produção de outros imunobiológicos para o SUS.

A instituição diz também que Bio-Manguinhos está preparando a área para a produção do IFA nacional receber a certificação da Anvisa em março. A expectativa é começar a produção dos primeiros lotes do insumo nacional em abril, inicialmente para fabricar 15 milhões de doses por mês. As primeiras vacinas totalmente nacionais deverão ser entregues a partir de agosto.