Título: Um país em estado de alerta
Autor: Braga, Carlos; Abade, Luciana
Fonte: Jornal do Brasil, 21/11/2008, Tema do Dia, p. A2

Mais da metade das capitais brasileiras estão em alerta contra a dengue, porque têm entre 1% e 3,9% dos seus domicílios infestados pela larva do mosquito. É o que mostra o Levantamento de Índice Rápido de Infestação por Aedes aegypti (LIRAa). Concluído no início de novembro, o levantamento mostra que os números deste ano estão melhores em relação aos ano passado. Este ano, 57,8% dos estratos avaliados ¿ áreas de 9 mil a 12 mil imóveis com características semelhantes ¿ apresentaram índice abaixo de 1%. Em 2007, a taxa foi de 53,8%.

O Rio não está livre de uma nova epidemia de dengue. De acordo com os dados do ministério, a capital e oito municípios do estado (Barra Mansa, Belford Roxo, Cabo Frio, Campos dos Goytacazes, Duque de Caxias, Itaboraí, Niterói e São João de Meriti) estão em situação de alerta. O índice de infestação por Aedes aegypti no Rio, 2,9%, diminuiu em relação aos 3,7% do ano passado, mas é a pior média do estado. O estudo também mostra que há situações mais graves em áreas da capital classificadas em situação de risco, onde a infestação chega a 10,8%.

Além das 14 capitais, 51 municípios estão em estado de alerta. Qualquer descontinuidade nas ações de controle da dengue nessas cidades pode alterar o quadro para situação de risco, como ocorreu no Rio de Janeiro no ano passado. Cinco municípios correm o risco de sofrer um surto: Itabuna (BA), Camaçari (BA), Mossoró (RN), Várzea Grande (MT) e Epitaciolândia (AC). Nessas cidades, 4% das casas têm focos.

O ministro da Saúde, José Temporão, convocou os prefeitos reeleitos e os novos além da sociedade a agirem para não haver intervalo nos trabalhos contra a dengue.

¿ Quero chamar a atenção para o fato de que, como nesta época do ano as temperaturas se elevam muito, o ciclo do mosquito que é de 30 dias em temperaturas amenas, se reduz para 12 neste período, o que aumenta a possibilidade de transmissão da doença ¿ ressaltou.

O LIRAa identifica os criadouros e a situação de infestação do mosquito. Neste ano, ele foi realizado em 161 municípios com mais de 100 mil habitantes. As cidades de fronteira e com grande fluxo de turistas tiveram prioridade.

Mobilização social

A precariedade do abastecimento no Nordeste leva os moradores a guardarem água em caixas, poços, tambores e tonéis. Esses recipientes correspondem a 62,1% dos criadouros predominantes na região. Nas regiões Sudeste, Centro-Oeste e Sul, os depósitos domiciliares como vasos de plantas, bromélias, piscinas, ralos e lajes são os criadouros predominantes, enquanto o lixo corresponde a 43,6% dos criadouros da Região Norte.

Segundo o secretário-adjunto de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde, Fabiano Pimenta, o Lira é fundamental para desenvolver as ações específicas conforme a necessidade de cada lugar. Logo, a Região Norte deverá, imediatamente, intensificar a limpeza urbana e investir em mutirões de coleta de lixo. Nas áreas onde os criadouros predominantes são os recipientes domiciliares, a mobilização da sociedade mostra-se tão importante quanto a atuação dos agentes de saúde.

¿ É preciso uma mudança de comportamento ¿ destacou Fabiano. ¿ Não adianta nada o agente ir na casa da pessoa fazer o trabalho e, na semana seguinte, o morador comprar vasos de flores e não ter o cuidado de colocar areia ou tirar a água acumulada. Deve-se ter cuidado até na hora de jogar o potinho de iogurte fora.

Combater o mosquito nos lugares onde há abastecimento irregular de água é mais complexo, porque são necessárias ações estruturais a médio e longo prazos.

As regiões Norte e Nordeste apresentaram índices melhores em relação ao ano passado. Na Região Norte, 16,2% dos estratos estavam infestados no ano passado. Esse número caiu para 12,1% este ano. Na Região Nordeste, a queda foi ainda maior. Foi de 14,2% para 8,3%. A Região Sudeste, apesar de apresentar uma redução da situação de risco, registrou aumento na situação de alerta. No Centro-Oeste, a maioria das áreas apresentou índices satisfatórios, mas houve aumento da situação de alerta e de risco.