Título: Câmara ''cozinha'' processo
Autor: Daniel Pereira
Fonte: Jornal do Brasil, 02/03/2005, País, p. A3

O presidente da Câmara, Severino Cavalcanti (PP-PE), sinaliza que só responderá na semana que vem à representação do PSDB contra o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Parlamentares do PP sustentam que a acusação contra Lula por crime de responsabilidade é exagerada, mas que não há razão para apressar a retirada da espada da cabeça do Planalto.

- Não temos que livrar o Lula tão rapidamente das besteiras que ele fala. O despacho ideal de Severino seria aguardarmos a reforma ministerial - ironizou Ricardo Barros (PP-PE).

O PP pressiona para ter um ou dois ministérios na reforma que se desenha para a semana que vem. O segundo vice-presidente da Câmara, Ciro Nogueira (PP-PI), disse que a legenda não ficará satisfeita com pastas inexpressivas como a dos Esportes ou a da Pesca.

- Este último pode deixar para o PT, para eles não ficarem tristes - ironizou Nogueira.

A tendência é que Severino cozinhe o Planalto, para valorizar o passe da legenda. A briga política entre governo e oposição emperrou a pauta de votações da Câmara ontem. Apesar de apenas uma medida provisória trancando a pauta e da pressão para a votação do projeto da Lei de Biossegurança e da emenda paralela da Previdência, nada foi analisado em plenário.

Severino quer ouvir a assessoria jurídica da Casa antes de se pronunciar. Também convidou ontem o ex-presidente da Casa, João Paulo Cunha (PT-SP), para ouvir a sua opinião. Ciro Nogueira foi pessoalmente encontrar-se com João Paulo e levou-o para o gabinete da Presidência.

Na conversa, de acordo com o próprio Ciro, João Paulo lembrou que durante o governo Fernando Henrique outras 22 denúncias foram apresentadas contra o então presidente, mas que nenhuma delas prosperou. O petista lembrou que ele próprio não deu prosseguimento à duas representações contra o governo Lula.

Severino não quis se pronunciar sobre o assunto. Apesar de ter afirmado que não pretende atrapalhar o governo, esquivou-se de dizer o que fará:

- Não resolvi nada. Como vou resolver, se acabei de chegar na Câmara?

A tropa de choque petista entrou em ação ontem. O líder do partido na Câmara, Paulo Rocha (PA), reuniu-se com o líder do governo na Casa, Professor Luizinho (SP), e com os deputados Arlindo Chinaglia (SP), Luiz Eduardo Greenhalgh (SP), Sigmaringa Seixas (DF) e Luciano Zica (SP). A intenção era atacar, apontando contradições dos tucanos e a tentativa de antecipar uma disputa eleitoral.

- Por que o PSDB propõe um processo por crime de responsabilidade na sexta e na segunda vai ao Supremo cobrar explicações? Não tinha certeza das acusações que fazia contra o presidente? - questionou Chinaglia.

O parlamentar reiterou que Lula não falou em corrupção, e sim, da necessidade de proteger a instituição referida, impedindo que viesse à público que ela estava quebrada. Os tucanos não parecem muito comovidos com o esforço petista. O líder do partido na Câmara, Alberto Goldman (SP), confirma que o PSDB ficou sem saída após as declarações de Lula. Para o líder tucano, o presidente cometeu um crime.