Título: Reajuste simbólico revolta servidores
Autor: Hugo Marques
Fonte: Jornal do Brasil, 02/03/2005, País, p. A5

Funcionários públicos protestam contra proposta de 0,1% enviada pelo governo ao Congresso e reivindicam correção de 144%

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva deixou os funcionários públicos indignados ao enviar ao Congresso uma proposta de reajuste salarial de 0,1% este ano. Os servidores civis realizarão mobilização em frente ao Ministério do Planejamento dia 15, quando pretendem entregar reivindicação de 144% de reajuste. As mulheres de militares planejam protesto na Esplanada dos Ministérios no próximo domingo.

- A proposta do presidente Lula nos deixa indignados. É um desrespeito a toda a categoria - diz o secretário de Assuntos Jurídicos do Sindicato dos Servidores Públicos Federais do Distrito Federal (Sindsep), Oton Pereira Neves.

Oton é também representante do Conselho Deliberativo da Confederação dos Trabalhadores do Serviço Público Federal (Condisef), que tem 400 mil filiados em todo o país. Além de perdas salariais de 144% para as categorias que não tiveram reajustes diferenciados, os servidores vão reivindicar planos de cargos e salários. Segundo Oton, há 1,5 milhão de servidores no país, e mais de 70% só tiveram 1% de aumento nos últimos 10 anos. O aumento foi concedido em 2003.

- Vamos fazer greve se o governo não repuser nossas perdas salariais - avisa Oton.

Para o sindicalista, a proposta de Lula provoca revolta na categoria. Representantes de todos os sindicatos de servidores públicos do país realizaram no fim de semana um seminário em Belo Horizonte para preparar a pauta de negociações a ser entregue ao Ministério do Planejamento. A sugestão de reajuste de 0,1% do governo foi enviada ao Congresso na sexta-feira, mas só chegou ao conhecimento dos servidores ontem.

- É imoral, beira o absurdo - afirma Oton.

Entre os militares, o clima também é de descontentamento. O militar não pode realizar manifestações por salário. A recém-criada Associação de Pensionistas e Esposas dos Militares das Forças Armadas (Apemsa) - em processo de registro - está mobilizando mulheres de oficiais para um protesto no domingo, durante cerimônia da troca da Bandeira, na Praça dos Três Poderes, em frente ao Palácio do Planalto. A presidente da Apemsa, Ester Evangelista, não gostou da proposta do governo:

- É piada - criticou.

O reajuste proposto pelo governo só valeria para servidores públicos civis. Os militares têm negociado em separado. Ano passado, tiveram aumento de 10%. Segundo Ester, isso não solucionou o problema da categoria.

- Alguns militares entraram na linha do aumento do IR e os 10% foram para a boca do leão. E os recrutas, que têm soldos compatíveis com o salário mínimo, também não foram beneficiados - diz Ester.

As esposas de militares querem reunir um mínimo de 700 pessoas no protesto, mesmo número que reuniram em um panelaço no ano passado. Ester afirmou que o protesto é para lembrar o governo de uma promessa de 23% de aumento salarial.

- Há muita insatisfação entre os militares. Vamos dar uma ajudinha para o governo lembrar do acordo - diz Ester.

Esposa de um segundo-sargento, ela afirma que a família não consegue cobrir os gastos com o salário líquido, em torno de R$ 1,5 mil. No contra-cheque é descontado o auxílio-moradia e ainda a prestação do Colégio Militar para o filho. A associação reivindica também promoção de taifeiros e corneteiros do Exército até o grau de subtenente. Segundo Ester, Marinha e Aeronáutica já os promovem até o grau de suboficial.