Correio Braziliense, n. 21099, 01/03/2021. Política, p. 3

 

"Desemprego em massa"

Renato Souza 

01/03/3021

 

 

Em uma sequência de críticas às medidas de isolamento social tomadas pelos estados e o Distrito Federal para tentar evitar o avanço da pandemia da covid-19, o presidente Jair Bolsonaro afirmou que o fechamento do comércio vai provocar "desemprego em massa". Nos últimos dias, o chefe do Executivo fez diversos comentários contra ações dos governadores e chegou a dizer que os gestores estaduais deveriam pagar o auxílio emergencial. Mais de 254 mil pessoas morreram pela doença em todo o país.

Nos últimos dias, Rio Grande do Sul, Paraná, Santa Catarina, Distrito Federal, Bahia, São Paulo, Ceará, Goiás, Paraíba, Pernambuco, Piauí e Rio Grande do Norte anunciaram restrições ao comércio e à circulação de pessoas. Em algumas regiões, como na capital do país e na Bahia, as cidades foram colocadas em lockdown, permitindo o funcionamento apenas de atividades essenciais. Dados das Secretarias de Saúde apontam que 17 unidades da Federação apresentam mais de 97% de lotação nas unidades de terapia intensiva (UTIs) destinadas a pacientes infectados pelo novo coronavírus.

Pelas redes sociais, Bolsonaro fez críticas e postou planilha com repasses que o governo federal teria feito aos estados para a área de saúde. "A saúde no Brasil sempre teve seus problemas. A falta de UTIs era um deles e certamente um dos piores. Hoje, ao fecharem o comércio e, novamente, te obrigarem a ficar em casa, vem o desemprego em massa, com consequências desastrosas no país", escreveu o presidente.
Ele também compartilhou dados referentes ao pagamento do auxílio emergencial. No Facebook, o chefe do Executivo compartilhou um vídeo do protesto de empresários e apoiadores dele, que ocorreu em frente à casa do governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha. Os manifestantes estão descontentes com o fechamento do comércio na capital do país (leia mais na página 13).

Desde o início da pandemia, Bolsonaro vem se apresentando como um crítico do isolamento social — medida defendida por sanitaristas e por organizações médicas de todo mundo como um mecanismo para reduzir o contágio e, consequentemente, o número de mortes. No Brasil, o distanciamento voltou a ser aplicado pelos estados num momento em que o Executivo federal tem dificuldades para promover a vacinação em massa. Até agora, mais de 10,5 milhões de pessoas foram contaminadas no país pelo novo coronavírus. As mortes (254.942) representam 2,4% do total. Apenas 3% da população (6,4 milhões) foi vacinada.

O comentário de Bolsonaro nas redes sociais surge num momento de preocupação do governo com o crescimento econômico. Dados do Banco Central mostram que, em 2020, a atividade econômica teve retração de 4,05%. Os últimos meses do ano foram marcados por certa recuperação, mas o próprio BC vem indicando que o início de 2021 será de dificuldades. A autarquia vê a possibilidade de nova retração econômica no primeiro trimestre.

Em eventos públicos, o presidente do BC, Roberto Campos Neto, tem afirmado que os resultados econômicos serão melhores apenas na segunda metade de 2021. Já o ministro da Economia, Paulo Guedes, mantém o discurso de que a vacinação em massa é decisiva para a recuperação. (Com Agência Estado)