Título: Atuação dos traficantes nas escolas é consequência natural
Autor: Braga, Carlos; Sáles, Felipe
Fonte: Jornal do Brasil, 22/11/2008, Tema do Dia, p. A2

O poder que o tráfico de drogas exerce sobre as escolas públicas, que estão próximas a suas áreas de atuação, é uma consequência previsível do estado de insegurança em que se encontra a cidade. Este é o resumo da opinião de especialistas sobre notícias que dão conta das imposições de quadrilhas de traficantes a alunos, professores e funcionários desses estabelecimentos de ensino.

¿ Se existe uma quadrilha armada em determinada região, com fama de ser violenta, e há uma ordem para que o comércio seja fechado, por que as escolas também não se dobrariam a essa imposição? É a lógica ¿ pergunta o sociólogo Michel Misse, professor do Instituto de Filosofia e Ciências Sociais da UFRJ e coordenador do Núcleo de de Estudos da Cidadania, Conflito e Violência Urbana Ifcs/UFRJ.

Medo de morrer

Para a antropóloga e coordenadora do Núcleo de Pesquisa das Violências do Instituto de Medicina Social, Alba Zaluar, a questão é que os traficantes têm um poder muito grande e a população, que mora próximo a essas escolas, não. E tem medo de morrer. A solução, prossegue a professora, não está no envio de policiais mal preparados para invadir essas comunidades.

¿ Sabemos que os traficantes tentam fazer pressão sobre as diretoras das escolas. Querem estabelecer o horário de funcionamento. Quando vão fazer Favela-Bairro nessas comunidades, os traficantes também querem escolher quem vai trabalhar na obra. Não se pode deixar as diretoras das escolas públicas abandonadas nas mãos desses facínoras ¿ critica.

A dificuldade para obter respostas dos funcionários das escolas públicas dificulta a pesquisa sobre a violência que eles sofrem, explica Michel Misse. Em geral, o que se consegue são informações de forma indireta.

¿ A solução é que sejamos capazes de impedir que áreas da cidade sejam controladas por quadrilhas, sejam de traficantes ou não ¿ encerra.