Correio Braziliense, n. 21102, 04/02/2021. Economia, p. 11

 

Pandemia derruba consumo

Marina Barbosa 

Fernanda Strickland

04/02/2021

 

 

O auxílio emergencial ajudou 68 milhões de pessoas a manter o consumo de bens essenciais na pandemia. Por isso, reduziu o tamanho do tombo do comércio e da economia brasileira em 2020. Porém, não livrou o consumo das famílias brasileiras de um baque de 5,5% no ano passado.

Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a queda do consumo das famílias é a maior dos últimos 25 anos e desponta como uma das principais responsáveis da retração de 4,1% do Produto Interno Bruto (PIB) em 2020. Afinal, o consumo das famílias é o "motor do PIB": o indicador responde por mais de 60% da economia brasileira sob a ótica da demanda.

Coordenadora de Contas Nacionais do IBGE, Rebeca Palis explicou que, apesar de o auxílio emergencial ter favorecido o consumo das famílias em 2020, essa contribuição não foi suficiente para reverter o impacto negativo de outros fatores. "O consumo caiu muito por causa do distanciamento social, dos efeitos negativos sobre o mercado de trabalho e da queda dos serviços prestados às famílias", contou.

"O auxílio foi importante. Sem ele, a queda do consumo e do PIB teriam sido bem maiores. Porém, ele não resgata todo o consumo, pois a pandemia afetou o mercado de trabalho, e 2020 também foi marcado pela inflação elevada, que impacta negativamente o consumo", reforçou o economista da Confederação Nacional do Comércio (CNC) Fábio Bentes.

De acordo com o IBGE, enquanto o consumo despencou 5,5%, a taxa de poupança do país subiu de 12,5% do PIB em 2019 para 15% em 2020. A alta foi impulsionada por essa "poupança precaucional" das famílias de classe média. E, para o governo, será um dos motores do consumo neste ano em que o auxílio emergencial vai chegar mais enxuto ao bolso das pessoas mais pobres e, por isso, não terá o mesmo efeito sobre a economia.

A CNC, no entanto, não acredita que toda essa poupança vai virar consumo, já que as incertezas econômicas continuam elevadas e fatores como a alta dos juros e da inflação podem segurar o consumo das famílias brasileiras. Por isso, diz que a volta do auxílio emergencial será fundamental para garantir o mínimo para milhões de brasileiros e também para evitar mais um ano difícil para a economia.

A dona de casa Maria de Fátima da Silva, de 57 anos, não tem dúvidas de que o auxílio emergencial é essencial. "Ele veio na hora que eu mais estava necessitando, por estar sem emprego. Ele deveria ter se estendido por um tempo a mais", disse.

Apesar da ajuda financeira, os beneficiários do auxílio veem outras urgências. "A volta do auxílio emergencial não será o suficiente para evitar algo pior. O que deveria ser feito pelos governantes é disponibilizar emprego para a população, para que ninguém dependa de um auxílio", reclamou a desempregada Maria de Jesus de Aguiar, 34 anos.

* Estagiária sob a supervisão de Odail Figueiredo