Título: Calote do Equador prejudica AL
Autor: Aliski, Ayr
Fonte: Jornal do Brasil, 25/11/2008, Economia, p. A16

Decisão de Correa aumentará custo de empréstimos para investimentos em países vizinhos.

BRASÍLIA

O calote no pagamento da dívida ao Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) pelo Equador deve aumentar o custo de operações de empréstimos para investimentos em países vizinhos, porque eleva o prêmio de risco, disse o Ministro das Relações Exteriores do Brasil, embaixador Celso Amorim.

¿ Isso não é ameaça, é uma conseqüência provável ¿ enfatizou o ministro brasileiro.

A decisão terá efeitos negativos sobre todos os 12 países latino-americanos integrantes da Associação Latino-Americana de Integração (Aladi).

¿ Qualquer inadimplência vai além das relações entre Brasil e Equador ¿ avaliou ontem Amorim, em referência ao fato de que a operação está sob o guarda-chuva do Convênio de Pagamentos e Créditos Recíprocos (CCR), mecanismo de compensação firmado entre os países da Aladi que facilita negociações comerciais entre os participantes.

Segundo Amorim, as empresas perceberão o aumento de dificuldades para obter crédito para fazer projetos em países vizinhos. O ministro disse que a crise com o Equador é diferente do que houve na invasão de unidades da Petrobras na Bolívia. Segundo Amorim, não houve qualquer pré-notificação equatoriana sobre intenções de suspender pagamentos ao BNDES.

¿ Na véspera do evento, nosso embaixador esteve com o vice-ministro das relações exteriores do Equador e não ouviu nada ¿ declarou.

Prejuízos futuros

A obra que gera o impasse é a construção da hidrelétrica de San Francisco, com financiamento de US$ 243 milhões do BNDES e desenvolvida pela Odebrecht. Correa disse que vai questionar o pagamento na Corte Internacional de Arbitragem da Câmara de Comércio Internacional (CCI).

Havendo ou não recuo de Correa quanto ao pagamento ao BNDES, a postura brasileira na avaliação de novos projetos no Equador já foi prejudicada. Segundo Amorim, o Brasil não vai fazer nada que prejudique o povo equatoriano, no sentido de acordos de natureza social. O certo é que projetos empresariais no Equador passarão por um crivo bem mais rígido.

¿ Não por retaliação, mas por precaução ¿ disse o ministro brasileiro ¿ os projetos que envolvem financiamentos terão que ser muito bem avaliados. Não fazemos isso com coração leve, com prazer ou satisfação ¿ disse Amorim.

O chanceler informou que um diplomata brasileiro está trabalhando em parceria com o BNDES para verificar como será tratado o impasse com o Equador.

¿ Uma coisa parece certa. O empréstimo do BNDES é irrevogável e independente. Está garantido pelo CCR ¿ disse Amorim.