Título: Desaceleração preocupa analistas
Autor: Marcelo Kischinhevsky e Rafael Rosas
Fonte: Jornal do Brasil, 02/03/2005, Economia & Negócios, p. A17

A série de altas das taxas de juros iniciada em setembro e a acomodação natural depois de meses de forte expansão provocaram desaceleração no crescimento econômico no último trimestre. O resultado do período ficou em 4,9%, abaixo da média do ano, justamente nos meses em que, normalmente, a economia está mais aquecida. O arrefecimento preocupa os analistas, que já começam a refazer suas projeções. O Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), que acertou no prognóstico sobre o ano passado, vai rever para baixo sua previsão de crescimento de 3,8% em 2005.

O chefe do Departamento Econômico da Confederação Nacional do Comércio (CNC) e ex-diretor do Banco Central (BC) Carlos Thadeu de Freitas Gomes é menos otimista. Para ele, o crescimento este ano deverá ficar entre 2% e 3%.

- A renda da população parou de cair, mas ainda não reagiu o suficiente. É o consumo que vai determinar o ritmo da economia. E, enquanto os juros não caírem, não poderemos ter crescimento sustentado - advertiu, ressalvando que o desempenho em 2004 foi positivo, apesar da fraca base de comparação do ano anterior.

Para Estêvão Kopschitz, do Ipea, o fato de o Banco Central ter sinalizado antes mesmo do primeiro aumento da Selic, em setembro, que elevaria os juros afetou as expectativas de empresários e consumidores, reduzindo o ritmo de crescimento.

Para o economista Guilherme Maia, da Tendências Consultoria, o início do ciclo de alta nos juros, em setembro, mexeu com as expectativas de empresários, o que fez cair o ritmo de investimentos no quarto trimestre, determinando a desaceleração.

Rebeca Palis, gerente das Contas Nacionais Trimestrais do IBGE, afirmou que os empresários, ao preverem juros mais altos no fim do ano, anteciparam os investimentos para o terceiro trimestre, o que explica a retração nos três meses seguintes.

Fernando Sarti, coordenador do Núcleo de Economia Industrial e da Tecnologia da Unicamp, vê com reservas o resultado do PIB. Para ele, o avanço de 5,2% em 2004 somado ao 0,5% do ano anterior, mantém o governo Lula próximo da média histórica de 2,2% dos últimos 20 anos.

- Precisamos gerar emprego, e não vai ser com 3,5% que isso vai acontecer. Crescimento é resultado de política e não há uma diretriz específica neste sentido. A política é inversa, com foco na estabilização e no controle da inflação. O crescimento é secundário - ressalta.

Sarti se baseia no crescimento de países da América Latina para a crítica. Segundo ele, Argentina e Chile tiveram resultados superiores, enquanto o México, embora abaixo, trabalha com projeção de resultado superior este ano.

- O nosso resultado foi o melhor em 10 anos, mas na comparação com os outros não foi tão positivo. Perdemos a onda de um ótimo ano. E o pior é que não se espera um resultado melhor em 2005 - alerta o professor, que relativiza a expressiva participação do consumo interno no resultado do PIB em 2004.

Com agências