Título: Palocci descarta 'vôo de galinha'
Autor: Luciana Otoni e Sabrina Lorenzi
Fonte: Jornal do Brasil, 02/03/2005, Economia & Negócios, p. A19
Para ministro, avanço no PIB demonstra crescimento sustentado. Furlan aposta em expansão superior a 4% em 2005
A economia brasileira caminha para uma trajetória de crescimento sustentável, afirmou o ministro da Fazenda, Antonio Palocci, ao comentar o avanço de 5,2% no Produto Interno Bruto (PIB). Para ele, o Brasil pode crescer por um longo período.
- Não há nenhuma possibilidade de vôos de galinha. De fato o Brasil tem uma grande chance de iniciar um vôo de crescimento longo e forte - disse o ministro.
Ele destacou ainda o fato de a taxa de investimento ter crescido 10,9%. Esse aumento, aliado a um PIB alto, ''é sinal de sustentabilidade do crescimento''.
Segundo Palocci, esse crescimento dá espaço para a geração de empregos e o aumento de renda das famílias.
Palocci também ressaltou que o crescimento precisa ser acompanhado do compromisso do governo pela austeridade fiscal.
- A economia brasileira mostra sinais de vitalidade e saúde financeira e isso precisa ser acompanhado da continuidade do esforço fiscal, do esforço de reformas para que nós possamos dar mais sustentabilidade ao processo de crescimento.
Entre as reformas, o ministro citou a necessidade de melhorar o ambiente de negócios e ampliar o acesso ao microcrédito para estimular a economia.
- Nós temos um quadro que nunca tivemos no passado recente do Brasil, que é uma combinação de ambiente fiscal, controle da inflação e contas externas muito favoráveis, PIB crescendo, investimento crescendo. Isso são os sinais de que o Brasil pode crescer de forma equilibrada por muitos anos.
O presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, afirma que o avanço do PIB pode ser creditado também a uma política econômica equilibrada e que justifica ainda a expectativa do governo em relação ao desempenho de 2005.
Para ele, o resultado do PIB é conseqüência de uma política fiscal sólida, uma política monetária comprometida com a estabilidade de preços e a redução de vulnerabilidades externas, como a queda da relação entre a dívida pública e o PIB e a redução da dívida pública atrelada ao câmbio.
Ainda de acordo com o presidente do Banco Central, a política monetária é adequada e a trajetória da inflação converge para as metas.
- Não existe política econômica de sucesso com uma política monetária que seja excessivamente rígida ou excessivamente frouxa - disse.
O Banco Central trabalha para alcançar uma inflação medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de 5,1%. Para isso, promoveu seis elevações consecutivas da taxa básica de juros da economia, a Selic, que hoje está em 18,75%, com o objetivo de conter o consumo e controlar a inflação.
Ao contrário da maioria das previsões feitas por analistas do mercado, o ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio, Luiz Fernando Furlan, aposta em um avanço superior a 4% no PIB.
- No ano passado, diferentemente de 2003, houve participação relevante do mercado interno. Acreditamos que também neste ano o mercado interno responderá por parcela relevante de crescimento do PIB. Setores que demoraram a despertar começam agora a ter um desempenho melhor e, ao mesmo tempo, as exportações continuarão com dinamismo.
O secretário do Tesouro, Joaquim Levy, avalia que a taxa de investimentos do país pode ser mantida em 2005. É factível, a seu ver, que a Formação Bruta de Capital Fixo repita o salto de 10,9%, como no ano passado.
- Esperávamos um resultado forte, em torno dos 5%. O IBGE mostrou que a demanda interna alavancou a economia no ano passado e isso é positivo - disse o secretário.
Levy também ressaltou avanços na política fiscal, com conseqüências positivas para os juros de longo prazo.
- Em 2006 podemos vislumbrar taxas de juros reais mais modestas. Vamos começar a ser país em que o céu cair na cabeça não será mais preocupação - afirmou, lembrando que o país já consegue captar com juros pré-fixados por prazos de cinco anos.
Levy defendeu o governo de críticas a respeito do aumento de gastos públicos. O economista Fabio Giambiaggi, do BNDES, acusou o governo de aumentar em 19% os gastos públicos no ano passado, numa ação ''de fazer inveja aos tempos de Fernando Henrique Cardoso''. Levy, por sua vez, rebateu que o governo responde aos anseios da sociedade.
Com Folhapress