Título: Reajuste eleva vendas externas
Autor: Luciana Otoni
Fonte: Jornal do Brasil, 02/03/2005, Economia & Negócios, p. A20
Preços em alta expandem resultado do minério de ferro
As exportações de minério de ferro deverão alcançar este ano a cifra recorde de US$ 8 bilhões, 71% acima dos US$ 4,7 bilhões embarcados em 2004. O principal fator de acréscimo, conforme projetou a Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), é o reajuste de 71,5% feito pela Companhia Vale do Rio Doce no preço do minério. Antes do anúncio do aumento, feito no dia 21 de fevereiro, previa-se receitas de US$ 6 bilhões com as exportações. Em termos de volume, espera-se elevar os embarques em 10%, saindo de 218 milhões de toneladas para 240 milhões de toneladas em 2005.
O reajuste entre a Vale e a Nippon Steel entra em vigor em abril e abrange a comercialização de 7 milhões de toneladas de insumo ao preço médio de US$ 28 por tonelada. O diretor executivo de Finanças da Vale, Fábio Barbosa, apontou a China como um gigante que está desequilibrando a demanda mundial, que três anos atrás importava 90 milhões de toneladas e passou a importar 208 milhões de toneladas em 2004.
- Sobre o impacto no mercado doméstico, o peso do minério na estrutura de custo das siderurgias varia de 10% a 15%. Negociamos um benefício para o país que, consolidado, terá impacto positivo de 0,3% no PIB - salientou.
A decisão da Vale, porém, não se restringe ao efeito positivo direto na balança comercial brasileira. O desempenho futuro das exportações de produtos manufaturados permanece dependente em parte do nível de repasse da alta para os preços dos produtos siderúrgicos no mercado doméstico. Em fevereiro essas exportações somaram US$ 5,4 bilhões. O reajuste de 71,5% no preço do minério acirrou divergências sobre a formação de preços dos produtos siderúrgicos entre usinas e grandes consumidores nacionais fabricantes de automóveis, auto-peças, eletroeletrônicos e máquinas e equipamentos.
Esse confronto vem sendo acompanhado pelo governo federal, que vê nas possibilidades de mudança dos preços um risco a mais no controle da inflação, considerando-se que esse reajuste gera um efeito em escala em várias cadeias produtivas. O presidente do Instituto Brasileiro de Siderurgia (IBS), José Armando de Figueiredo, disse que o reajuste feito pela Vale gerará efeitos diferenciados. Ele informou que até o momento o setor não sabe qual será o impacto nos produtos vendidos no mercado brasileiro porque as empresas nacionais seguem em parte os preços praticados na Europa, ainda não definidos.
- Se o mercado internacional continuar com preços e demandas muito firmes, certamente os preços tendem a subir no mercado interno, o que não significa que a cadeia como um todo não possa se beneficiar de ter produto disponível e manter suas exportações e posições no mercado doméstico - avaliou.
Se realizada, a alta dos produtos siderúrgicos poderá reduzir a competitividade das exportações de produtos manufaturados. Desde 2004, os fabricantes que utilizam produtos siderúrgicos vêm reclamando da elevação dos preços.
Ainda em relação aos manufaturados, outra força que atua contra é a persistente desvalorização do dólar americano. Segundo a AEB, as exportações nos dois primeiros meses do ano não embutem os efeitos da queda, que começarão a ser percebidos a partir de abril.
- Até abril, a desvalorização do dólar não terá reflexo nas exportações e, depois disso, esse reflexo pode não aparecer se o mercado interno não reagir -, comentou o vice-presidente da AEB, José Augusto de Castro.
Em 2004, os manufaturados responderam por 54% das exportações de US$ 96 bilhões feitas pelo Brasil. Para 2005, a AEB calcula que essa participação ficará entre 58% e 60%.