Valor econômico, v. 21, n. 5195, 25/02/2021. Brasil, p. A4

 

Saúde recua e agora recomenda reserva de parte das vacinas

Rafael Bitencourt

Anaïs Fernandes

25/02/2021

 

 

Orientação anterior era que toda a remessa de imunizantes fosse aplicada como primeira dose nos grupos prioritários

O Ministério da Saúde voltou atrás na recomendação dada a municípios para que toda a remessa de vacinas Coronavac (Butantan/ Sinovac) seja aplicada como primeira dose nos grupos prioritários. Informe técnico da Secretaria de Vigilância Sanitária (SVS) do dia 23 de fevereiro define que metade do imunizante seja reservada para a segunda aplicação.

A destinação de todos os lotes da vacina para a primeira dose foi anunciada pelo próprio ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, em reunião realizada na semana passada com prefeitos. O ministro alegou que a estratégia serviria para ampliar as frentes de vacinação, com a expectativa de que não haveria mais interrupções no fluxo de entrega do imunizante.

Agora, o informe da SVS indica que a reserva da segunda dose de Coronavac é necessária para “garantir que o esquema vacinal seja completado” no período de duas a quatro semanas. Foi preciso adotar a medida porque “ainda não há um fluxo de produção regular da vacina”, diz a nota.

O Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass) e o Conselho Nacional de Secretarias Municipais de Saúde (Conasems) orientam que Estados e municípios sigam o informe do ministério.

Segundo Carlos Lula, presidente do Conass, secretários foram “pegos de surpresa” com a fala de Pazuello e houve “pressão” de prefeitos e autoridades sanitárias por explicações. “Enviamos ofício solicitando que o Ministério da Saúde esclarecesse e ele deixou claro que é possível fazer isso [uso integral das remessas para primeira aplicação] quando houver doses disponíveis. A fala era nesse sentido, não é para entender que já será nesse momento. Se fizermos isso agora, existe o risco de a gente não ter garantia da aplicação da segunda dose e estaremos estragando vacina”, diz Lula. Para ele, uma estabilidade na entrega de vacinas que permita adotar esse tipo de estratégia deve ser algo para o segundo semestre.

Ontem, o governador de São Paulo, João Doria (PSDB), disse que a situação “é o samba do ministério louco”. “Um ministério que num dia informa pelo seu ministro da Saúde que vai privilegiar a primeira dose em detrimento da segunda e o mesmo ministério, 72 horas depois, volta atrás na posição, nós vamos acreditar em quem, no ministro ou no ministério?”, questionou. “É difícil administrar assim.”

O Ministério da Saúde prevê entregar 3,2 milhões de doses de vacinas contra a covid-19 entre o fim de fevereiro e o início de março - 1,2 milhão da Coronavac (primeira e segunda dose) e 2 milhões da vacina da AstraZeneca /Fiocruz (primeira dose). Neste caso, não há recomendação para retenção de doses, já que o intervalo entre as aplicações é maior, de até três meses. No informe, o ministério diz que a segunda dose da vacina da AstraZeneca/Fiocruz será distribuída “em prazo oportuno” e que o intervalo entre doses “está preservado e deverá ser observado”.