Título: Famílias de crianças surdas lutam por exame
Autor: Melissa Medeiros
Fonte: Jornal do Brasil, 02/03/2005, Brasília, p. D4

Ação tenta garantir implante que permite recuperar audição

A Secretaria de Saúde mantém atualmente cerca de 30 filhos do silêncio. São crianças com problemas auditivos que esperam por tomografia computadorizada e ressonância nuclear magnética, exames preliminares para fazer o implante de cóclea - nome de uma região do ouvido - que lhes permitirá ouvir. O implante coclear consiste em colocar no ouvido um aparelho que fornece informação sonora e, a partir daí, os operados passam a ter uma audição útil.

O artigo 11 do Estatuto da Criança e do Adolescente determina que crianças portadoras de deficiências recebam atendimento especializado e que o poder público forneça gratuitamente os serviços relativos ao tratamento e reabilitação. Apesar disso, a Secretaria de Saúde não oferece os exames e nem fixa prazo para que isso aconteça. Cansados de idas e vindas sem sucesso, os pais das crianças entraram com uma ação no Ministério Público para que tome as providências. Do contrário, argumentam, muitas dessas crianças podem ficar surdas pelo resto da vida, uma vez que o implante tem de ser realizado até os seis anos de idade.

Em novembro do ano passado, Laudemir Cardozo recebeu a notícia mais importante de sua vida: seu filho Victor, de 5 anos, foi selecionado para fazer o implante coclear no Rio Grande do Norte. Toda a felicidade desmoronou quando ela tentou fazer os exames pré-operatórios necessários e não conseguiu esse atendimento.

- Meu filho está no limite de idade para fazer o implante. Estou vendo a hora de perdermos esse milagre porque o governo não oferece esses exames. Apelamos para o Ministério Público e espero muito conseguir os exames - diz Laudemir.

De acordo com informações do Hospital de Base, os exames não estão sendo oferecidos por falta de um carrinho especial que viabiliza a entrada do material anestésico na sala dos exames. Para fazer tomografia e ressonância, as crianças precisam ficar quietas e isso só é possível com sedação, portanto, o médico anestesista precisa ficar no local com o carrinho que contém o material necessário. Como a sala dos exames é envolta de radiação, o carrinho tradicional não pode ser usado.

A Secretaria de Saúde informou que não tem previsão para fazer os exames nas crianças, mas que o carrinho já foi comprado.

- Para segurança das crianças, nenhum exame será feito enquanto o carrinho não chegar ao hospital, mas ele já foi comprado por R$ 50 mil. Não sei quando será entregue, nem tenho noção de quando começarão a ser feitos os exames - afirma o Secretário de Saúde, Arnaldo Bernadino.