O globo, n. 31972, 18/02/2021. País, p. 7

 

Em silêncio, Bolsonaro evita apoio público ao aliado

Jussara Soares

18/02/2021

 

 

Presidente foi aconselhado a manter distância do caso que envolve STF e Câmara; Eduardo votará contra prisão

Com livre acesso ao Palácio do Planalto e contato preferencial no WhatsApp do presidente Jair Bolsonaro, o deputado federal Daniel Silveira (PSL-RJ), preso após uma série de ataques e ofensas a ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), não recebeu publicamente o apoio do governo. O presidente da República optou pelo silêncio na tentativa de não levar a crise causada pelo aliado para dentro do Executivo. Até o momento, a determinação é deixar o episódio restrito ao Legislativo e ao Judiciário.

Após um dia quente em Brasília, Bolsonaro chegou ao Palácio da Alvorada, mas não deu declarações sobre o tema para apoiadores que o aguardavam no local. Mais cedo, o líder do governo na Câmara, Ricardo Barros (PPPR), defendeu a soltura do deputado bolsonarista, mas destacou que essa é uma posição sua como parlamentar e que o governo não entrará na discussão.

“Como parlamentar, votarei pela soltura do deputado Daniel Silveira; pela liberdade de expressão, de opinião e pela imunidade parlamentar, diretos garantidos na Constituição Federal . O impasse é entre legislativo e judiciário. O governo não faz parte da questão”, escreveu o líder no Twitter.

SEM INTERFERÊNCIA

Logo após a prisão do deputado na noite da última terça-feira, integrantes do governo defenderam, reservadamente ao GLOBO, que o Planalto não deve interferir na questão e evitar uma novo tensionamento com a Corte. Esses auxiliares lembram que o Executivo, após uma sucessão de crises com o STF no ano passado, conseguiu contornar a situação e estabelecer um relacionamento menos conflituoso para seguir governando.

Três inquéritos no STF miram o presidente e seus aliados. Daniel Silveira é investigado em dois deles, o que apura o financiamento de atos antidemocráticos e o das fake news. Já Bolsonaro é alvo no inquérito que investiga a suposta interferência do presidente na Polícia Federal, conforme denúncia do ex-ministro da Justiça, Sergio Moro.

Embora tenha bom trânsito no governo, Daniel Silveira, que está preso na sede da Polícia Federal no Rio, foi criticado por integrantes do Planalto pelos ataques aos magistrados. Na opinião de uma pessoa próxima a Bolsonaro,  Silveira fez “ataques gratuitos e generalizados” e extrapolou o direito de se manifestar ao “desafiar, xingar e desqualificar” ministros do Supremo Tribunal Federal. Segundo este integrante do governo, apesar das divergências com a Corte não há como o governo apoiar Silveira sob pena de sair prejudicado.

MUDANÇA DE OPINIÃO

Outro auxiliar observou que, embora há um entendimento que o STF extrapolou ao determinar a prisão, o Executivo deve deixar a questão ser resolvida pelo presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), aliado do Planalto. Entretanto, assessores ponderam que, no de desenrolar dos acontecimentos, o presidente pode mudar de opinião, como já ocorreu em outros momentos.

Integrantes do governo do presidente, com os quais Silveira frequentemente se deixa fotografar, também não se manifestaram em seus perfis nas redes sociais. O vereador Carlos Bolsonaro (Repubicanos-RJ) se limitou a escrever: “Sinto meu estômago embrulhado como não sentia há tempos!.” Mesmo sem citar o deputado, a mensagem foi entendida como uma referência à prisão do aliado.

Amigo de Silveira, o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) saiu em defesa do colega parlamentar no início da noite. Limitou-se, no entanto, a publicar no Twitter que votará nesta quinta-feira para a soltura do colega. “Dentre outros fatores, amanhã votarei pela libertação do Dep. Fed. @danielPMERJ em nome das garantias da imunidade parlamentar, liberdade de expressão, devido processo legal, ampla defesa e contraditório” , escreveu.

Eduardo é co-autor do projeto de lei (PL) apresentado por Silveira na semana passada para proibir empresas de tecnologia de remover conteúdos de redes sociais.