Título: Aquele abraço
Autor: Mariana Filgueiras
Fonte: Jornal do Brasil, 02/03/2005, Rio, p. A12

Cristo ganha iluminação azulada, que encanta cariocas e turistas. Festa dos 440 anos só acaba com show de Lenny Kravitz

A imagem do Cristo Redentor iluminado em azul parecia uma ousadia da artista plástica francesa Agnès Winter na festa de 440 anos da cidade. No entanto, nem mesmo o céu nublado e o vento frio atrapalharam o espetáculo. A imagem símbolo do Rio de Janeiro colorida em anil sobressaiu no céu cinza chumbo que cobria a cidade. O cardeal arcebispo Eusébio Scheid observou o fenômeno, ¿ parece que estamos juntos com Cristo numa imensa nuvem ¿ disse, enquanto abençoava os cariocas numa cerimônia que teve ainda a participação da Orquestra Villa-Lobinhos e dos alunos do Instituto Nacional de Surdos apresentando o Hino Nacional na linguagem dos gestos. O cardeal ofereceu a celebração à saúde do Papa João Paulo II. No entanto, o Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional) do Rio de Janeiro adiou a reunião do conselho consultivo para o dia 10 de março. Esta reunião consiste na formalização do pedido de tombamento do patrimônio por parte da superintendência local ao Iphan no âmbito federal, no Ministério da Cultura. Caso o pedido seja aceito, o patrimônio será tombado. Mas este processo ainda demora uns dias após a reunião. Com a reunião marcada para o dia 10, o Cristo só deve ser formalmente tombado perto do dia 15 de março.

A governadora, Rosinha Matheus, esteve presente no ritual católico e pediu que os moradores da cidade abram seus corações para a paz. As comemorações tiveram início pela manhã, com a banda do Cordão da Bola Preta e Confraria do Garoto tocando marchinhas e hinos do Rio, como a música Cidade Maravilhosa, de André Filho, composta em 1934. A banda seguiu para o Largo da Carioca, onde bolo, champanhe e morangos com chantilly foram distribuídos aos pedestres.

A aposentada Laís Frota, 80 anos, acompanhou a festa desde cedo. Ela conta com orgulho que conhece o Rio como ninguém.

¿ Só na Sete de Setembro eu moro há 54 anos. O Cordão da Bola Preta me faz lembrar daqueles tempos antigos ¿ alegra-se.

Ao meio-dia, a Casa França-Brasil apresentou o pianista Arthur Moreira Lima, que tocou por duas horas para uma platéia de mais de 900 pessoas, segundo os organizadores. Depois de três peças de Chopin e uma de Astor Piazolla, Arthur encantou o público de todas as idades com um bis longo de Piazolla.

¿ Foi uma surpresa ver tantos jovens na platéia ¿ disse Guilherme Lustosa, assessor da instituição.

A comerciante Neusa Ferreira trouxe a amiga Jacira Maria dos Santos, que mora na Bahia, para passar o carnaval no Rio. A amiga gostou tanto que resolveu ficar mais tempo e pôde aproveitar a festa de 440 anos.

¿ Que coincidência maravilhosa, o aniversário do Rio logo depois do carnaval! ¿ exclamou Jacira.

No fim da tarde a Rua da Candelária e a Associação Comercial ganharam uma nova iluminação, para ambientar o clima do Rio Antigo. Figurantes vestidos de Carmem Miranda, pipoqueiros, baleiros e malandros divertiam as pessoas que passavam, distribuindo flores, pirulitos e amendoins. Uma réplica do tradicional Bar Luiz foi montada, e um bufê que tinha até caldinho de feijão foi distribuído.

A festa continua neste fim de semana, na Praia de Ipanema. São esperadas 30 mil pessoas no Posto 10. No sábado, dia 5, a partir das 20h, o show é do instrumentista Márcio Montarroyos. Em seguida, a Banda Black Rio convidará Cláudio Zoli, Sandra de Sá e Aleh. No domingo, a partir das 19h, sobem ao palco o guitarrista Ricardo Silveira, com Pedro Luís e a Parede, Fernanda Abreu e Tony Garrido. A festa vai até o dia 21, quando Lenny Kravitz canta na Praia de Copacabana.