Título: Calmo e solitário
Autor: Ana Paula Verly
Fonte: Jornal do Brasil, 02/03/2005, Rio, p. A14

Leonardo de Carvalho Marques, assassino confesso do ambientalista Dionísio Júlio, morava sozinho há cinco anos. Antes de sua mãe falecer, em 2000, eles dividiam a casa no bairro do Tinguá. O ambiente é composto por poucos móveis e os cômodos são pequenos. Ontem, depois de mostrar o local onde enterrou o corpo de uma outra vítima, Leonardo chorou e disse: - Passo dificuldades. No dia que a matei estava pegando jaca no mato. Quando a situação aperta, pego jaca e palmitinho no mato para comer. Prefiro fazer isso a roubar. Roubar eu não roubo. Minha casa é humilde.

Alguns parentes de Leonardo moram no mesmo bairro e seu pai, o motorista de ônibus aposentado José Domingos Marques, 56, ficou surpreso ao saber que o filho cometeu o crime.

- Tomei um susto terrível. Estou com um peso por dentro - disse José, que lembrou que se separou da mãe de Leonardo quando ele ainda não havia completado um ano.

Uma irmã de Leonardo, que preferiu não se identificar, também esteve ontem no Tinguá. Ela foi cumprimentada pelo assassino confesso, que falou com seus parentes antes de entrar no carro da polícia e voltar para a prisão. O pai, José, ganhou um beijo e ficou emocionado.

- Tudo isso é muito triste - disse o aposentado.

Segundo o chefe da Reserva Biológica, Luiz Henrique Santos Teixeira, Leonardo parecia ser uma pessoa calma.

- Vivia sempre só, desocupado, não bebia e não era visto em baderna - lembrou Luiz Henrique.

Preso há cinco dias, Leonardo, que confessou o crime de maneira fria, acabou se desesperando ao saber que pode ficar preso por mais de 20 anos.

- Ele achava que pegaria seis anos. Caiu em prantos ao saber que não era isso - contou um policial.

De acordo com o diretor do ICCE, Roger Ancillotti, Leonardo não será submetido a exame de sanidade mental.

- Ele é calmo e orientado no tempo e no espaço. Não demonstra sinais de retardamento mental - explicou.