Título: Caçador confessa outro homicídio
Autor: Ana Paula Verly
Fonte: Jornal do Brasil, 02/03/2005, Rio, p. A14
Leonardo, que está preso há cinco dias, levou a polícia ao local onde enterrou o corpo da jovem ainda não identificada
O caçador Leonardo de Carvalho Marques, 21 anos, que assassinou o ambientalista Dionísio Júlio Ribeiro Filho, há uma semana, confessou anteontem ter matado uma mulher e enterrado o corpo no mato, a cerca de 20 metros de sua residência, no bairro do Tinguá, em Nova Iguaçu. Leonardo contou que a golpeou na cabeça com uma pá, enforcou e cortou seu pescoço. Ele teria flagrado a vítima - que aparentava ter entre 20 e 25 anos - tentando invadir sua casa. Leonardo está preso desde quinta-feira. Ele confessou ter matado a tiros o ambientalista a cerca de 200 metros da Reserva Biológica do Tinguá, em represália às denúncias que resultaram em apreensões de armas de caçadores.
Policiais da 58ª DP (Posse), responsáveis pela prisão, o interrogaram na segunda-feira para checar denúncia de que ele teria matado uma garota de programa. Leonardo disse que voltava da reserva, à noite, quando viu uma mulher com a mão na fechadura de sua casa, que fica na Estrada Administração. Após receber um golpe de pá na cabeça, ela foi enforcada com um cadarço de tênis e, desmaiada, arrastada até a mata. Como a roupa da vítima agarrava nos galhos, ele a despiu e depois cortou seu pescoço com uma faca - que os policiais recolheram na residência de Leonardo. Ela foi enterrada seminua, em cova rasa.
De acordo com o diretor do Instituto de Criminalística Carlos Éboli (ICCE), Roger Ancillotti, que acompanhou a exumação, o cadáver é de uma mulher morena, morta entre dois e três meses atrás. O anel e a pulseira encontrados no cadáver serão periciados para tentar identificá-lo.
- Deve ser alguém que freqüentava a cachoeira - disse uma vizinha, que não quis se identificar, informando que Leonardo tem uma namorada há cerca de dois anos.
Para o chefe da Polícia Civil, delegado Álvaro Lins, o fato enfraquece a tese de que Leonardo teria matado Dionísio a mando de alguém.
- Temos certeza de que ele é capaz de ter cometido o crime sozinho. Toda o relato que ele fez é compatível com a perícia - declarou Lins, que não descarta, no entanto, o envolvimento de outras pessoas.
Ontem, foi decretada a prisão preventiva de Leonardo. Ele responderá por dois homicídios, pelos quais pode ser condenado a até 60 anos de prisão.
Desde ontem, o policiamento do Tinguá foi reforçado, por determinação do secretário de Segurança, Marcelo Itagiba. O efetivo do Destacamento de Policiamento Ostensivo foi dobrado, passando para 10 policiais. O Batalhão Florestal está atuando durante 24 horas na região, com sete soldados em cada turno.
Uma equipe da delegacia da Polícia Federal de Nova Iguaçu esteve ontem no sítio do pastor Marcos Pereira da Silva - que participou das negociações da rebelião da Casa de Custódia de Benfica, no ano passado, e é investigado por envolvimento com o tráfico de drogas - para cumprir mandado de busca e apreensão, mas nada foi encontrado que indicasse sua participação no crime contra Dionísio Ribeiro. O pastor foi multado em R$ 150 mil, em 2003, pelo fiscal do Ibama Márcio das Mercês - um dos ambientalistas da região ameaçados - por causa de obras irregulares em seu terreno, que abrange parte da Reserva.
Amanhã acontece a primeira reunião do Grupo de Trabalho de Proteção Ambiental - formado por representantes das polícias Federal, Militar e Civil, ministérios públicos federal e estadual e parlamentares - para discutir formas de prevenção contra crimes ambientais.